Confira o passado de Dilma

terça-feira, 29 de junho de 2010

ISTOÉ Eleições 2010
O passado dos candidatos

| N° Edição: 2120 | 25.Jun - 21:00 | Atualizado em 29.Jun.10
A torre das donzelas
Como era a vida de Dilma Rousseff na masmorra que abrigava presas políticas durante o regime militar no presídio Tiradentes
Luiza Villaméa e Claudio Dantas Sequeira

MARCO
Portal tombado pelo patrimônio histórico é o que restou do presídio

Durante quase três anos, Dilma Rousseff, a candidata do PT à Presidência da República, morou na Torre das Donzelas. A construção colonial não pertencia a nenhum palácio. Encravada no presídio Tiradentes, em São Paulo, ganhou o singelo nome por abrigar presas políticas do regime militar. Para chegar à Torre, Dilma e suas companheiras atravessavam um corredor com celas em uma das laterais. Os cubículos eram ocupados pelas corrós, as presas correcionais, tiradas de circulação por um mês, em geral por vadiagem ou prostituição. Essas mulheres costumavam ficar seminuas ou com a roupa virada pelo avesso, para se apresentarem em trajes limpos quando liberadas.

COMPANHEIRAS DE CADEIA
Dilma, Eleonora, Guiomar, Rose e Cida na época em que foram presas

"Terrorista! Linda! O que você está fazendo aqui?", gritavam as corrós ao verem passar uma nova presa política. Depois do corredor, havia um pequeno pátio. Em seguida, vinha a Torre. Dilma atravessou o corredor das corrós em fevereiro de 1970, aos 23 anos, após mais de 20 dias nos porões da repressão política. "Ela chegou fragilizada pela tortura, mas logo se recuperou", lembra a jornalista Rose Nogueira, 64 anos, que passara pelo mesmo processo três meses antes.

O presídio Tiradentes, onde Dilma esteve presa, já havia sido usado para encarceraros estudantes detidos no Congresso da UNE em Ibiúna (SP), em 1968.
Na era Vargas também abrigara presos políticos, entre eles o escritor Monteiro Lobato

Ao entrar pela primeira vez na Torre, Dilma viu as celas pequenas do térreo e duas escadarias laterais que saíam de uma espécie de hall e se encontravam no piso superior. Nesse andar, havia a cela 4, chamada de celão, pois se espalhava por 80 metros quadrados. Tinha também a cela 5, mais tarde adaptada como cozinha, e a 6, que Dilma dividiu com outras mulheres. "No começo, ficávamos na tranca o tempo todo", conta a advogada Maria Aparecida Costa, a Cida Costa, 65 anos, uma das ocupantes da cela 6. Depois de algumas semanas e muitas reivindicações, as celas passaram a ficar abertas durante o dia.

Não demorou para que as donzelas da Torre se agrupassem, primeiro com base nas organizações clandestinas às quais pertenciam no "mundão". Porque a Torre, no vocabulário das presas, era o "mundinho". Mas as afinidades pessoais também contavam muito, como relata a médica e pesquisadora Guiomar Silva Lopes, 66 anos. "No mundão, o vínculo era de vida e morte", diz Guiomar. "Na cadeia, estabelecemos uma relação de confiança inabalável." Dilma é até hoje lembrada pelo espírito solidário. Durante um período, cuidou de uma estudante de arquitetura. "Quando a menina chegou da tortura, estava muito desestruturada emocionalmente", afirma a advogada Rita Sipahi, 72 anos. "A Dilma ficou de olho nela o tempo todo para evitar que cometesse algum desatino."



Com a possibilidade de circular entre as celas, as presas políticas tentavam curar as feridas umas das outras e também se organizavam. Havia escala para as tarefas da limpeza e da cozinha. Com os víveres levados pelas famílias, elas preparavam as próprias refeições. Algumas conseguiam bons resultados, embora só contassem com dois fogareiros elétricos. Outras, nem tanto. A dupla mais desastrada na cozinha era formada por Dilma e Cida. "Não dominávamos a arte do tempero", reconhece Cida. Numa ocasião, as duas resolveram caprichar no preparo de um prato de legumes. Acabaram servindo uma sopa de quiabo intragável. "Ficamos um pouco frustradas com o resultado, pois havíamos nos esforçado."

Dilma se sobressaía nos grupos de estudo. "Ela é muito engenhosa na macroeconomia", elogia outra companheira da Torre, a economista Diva Burnier, 63 anos. Na cadeia, Dilma, que abandonara a faculdade por causa da clandestinidade, dava aulas de economia para as colegas e participava dos debates. Num deles, defendeu a ampliação dos limites marítimos do Brasil. "Embora fosse uma iniciativa dos militares, Dilma apoiava, pois acreditava ser uma questão de soberania", recorda Rose. "Hoje é fácil perceber a importância daquela decisão, tanto por causa da biodiversidade como pelo pré-sal."

Diante do Tiradentes, mães de estudantes fazem protesto contra a prisão de seus filhos. As mães das "donzelas da Torre" chegavam para as visitas nas tardes de sábado. Era o contato delas com o "mundão"

Aos 82 anos, a advogada Therezinha Zerbini, mulher do general Euryale de Jesus Zerbini, cassado em 1964, também recorda de Dilma com admiração. Presa na Torre durante o ano de 1970, Therezinha se destacava tanto pela origem quanto por ser uma senhora entre a população carcerária extremamente jovem. "As amigas dela me chamavam de 'burguesona' e ela me defendeu. Ela tinha uma liderança nata", diz Therezinha. Quando precisava, Dilma endurecia. No final do ano, Therezinha estava bordando o vestido que a filha usaria no Réveillon quando um grupo de militares a procurou. "Acho que queriam me convencer a entrar num programa de arrependidos", diz, referindo-se aos presos que foram à tevê renegar a opção pela resistência ao regime. "Não quis atendê-los. Eles voltaram mais tarde e, quando eu estava mandando-os ir embora, a Dilma gritou: 'Dá duro neles, Therezinha. Se precisar, nós colocamos todos para fora' ."


Naqueles tempos, a atitude desafiadora só seria possível mesmo no presídio Tiradentes. Como muitos torturadores costumavam repetir durante as sessões que promoviam, o Tiradentes "era o paraíso". Isso porque, ao entrar no presídio, a pessoa estava com a prisão reconhecida pelo Estado. Às vezes, era levada para interrogatórios em outras instituições, mas praticamente não corria risco de morrer ou "desaparecer". Na escala macabra estabelecida nos porões do regime, a Operação Bandeirante (Oban) era o inferno, ficando o purgatório por conta da Delegacia Estadual de Ordem Política e Social (Deops). Como várias companheiras de cadeia, Dilma passou pelo inferno e pelo purgatório antes de chegar à Torre.

Por conta das sevícias, sofreu uma disfunção hormonal que levou anos para ser curada. Não perdeu, porém, o gosto pela vida. Com Cida, passava horas lendo os livros de ficção científica. Quando o rodízio do único aparelho de tevê da Torre caía em sua cela, entrava na madrugada vendo os filmes da sessão "Varig, a dona da noite". Aprendeu até a bordar. "Ela fez uma tapeçaria com flores coloridas, que colocamos na parede", lembra Rose. Na Copa do Mundo de 1970, acompanhou os jogos de perto. "A Dilma torceu muito pela Seleção Brasileira", diz a socióloga Rosalba de Almeida Moledo, 66 anos.

Criado em 1852, o presídio Tiradentes recebeu no começo escravos recapturados.
A Torre das Donzelas, onde ficaram Dilma e suas companheiras, é a construção redonda ao centro. Todo o complexo foi demolido a partir de 1973, durante a construção do metrô.

No período em que o advogado Carlos Franklin Paixão de Araújo, seu companheiro, permaneceu encarcerado no Tiradentes, Dilma se comunicava com ele com a ajuda dos presos comuns. A rota usada por ela e outras presas políticas consistia em baixar mensagens por meio de uma corda artesanal, chamada "teresa", para a carceragem dos "comuns", que ficava embaixo da Torre. "De cela em cela, as mensagens chegavam ao destinatário, na ala dos presos políticos", comenta Guiomar. "O recurso também era fundamental para sabermos o que estava acontecendo lá fora."

Outro canal com o "mundão" eram as visitas, nas tardes de sábado, a maioria proveniente da capital paulista. "Nossas famílias, de Belo Horizonte, não conseguiam viajar com tanta frequência", diz a pró-reitora da Universidade Federal de São Paulo, Eleonora Menicucci de Oliveira, 66 anos. "De qualquer forma, a mãe da Dilma e o irmão dela conseguiam vir bastante. Era uma alegria." Para a mãe e as irmãs de Eleonora, viajar era mais complicado. Elas cuidavam de Maria, a filha de Eleonora, que tinha apenas um ano e dez meses quando a mãe foi presa.


Conhecidas desde os tempos em que estudavam em Belo Horizonte, Dilma e Eleonora comemoravam com as meninas da Torre o Natal, o Réveillon e o Carnaval. As fantasias eram improvisadas, é claro, mas havia até desfile no "celão". No caso de Dilma, as estratégias para manter o moral elevado atrás das grades também passava pelo humor. "Ela pôs apelido em todas nós", conta Rita. "Uma era a Ervilha, outra a Moló, porque tinha jogado um coquetel-molotov em uma ação." Essa faceta pouco conhecida de Dilma é ressaltada por outras entrevistadas. "Ela tem um humor impagável", garante Eleonora. Quando a hoje presidenciável deixou a Torre, as companheiras de cadeia repetiram o ritual criado para o momento da libertação: cantaram "Suíte do Pescador", de Dorival Caymmi, que começa com o verso "Minha jangada vai sair pro mar". Quase 40 anos depois, tudo o que sobrou do presídio foi o portal de pedra, tombado como patrimônio histórico. No final de 1972, a construção de 1852 começou a ser demolida, para a construção do metrô paulistano.

"Dia Sem Globo" . Em apoio a Dunga.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O técnico da seleção brasileira abriu fogo contra a Rede Globo. Dunga deu na canela do comentarista Alex Escobar, da Globo. Poucas horas depois, um dos apresentadores do programa Fantástico, Tadeu Schmidt, da África leu um editorial da emissora detonando Dunga.

Tudo tem um porque, antes do ataque ao Dunga no Fantástico, o Jornal O Globo já havia descido a lenha na seleção e principalmente no seu treinador.

Qual a razão dessa súbita mudança de comportamento?

Vamos aos fatos:

Segunda feira, véspera do jogo de estréia da seleção brasileira contra a Coréia do Norte, por volta de 11 horas da manhã, hora local na África do Sul.

Eis que de repente, aportam na entrada da concentração do Brasil, dona Fátima Bernardes, toda-poderosa Primeira Dama do jornalismo televisivo, acompanhada do repórter Tino Marcos e mais uma equipe completa de filmagem, iluminação etc.

Indagada pelo chefe de segurança do que se tratava, a esposa do poderoso William Bonner sentenciou: “Estamos aqui para fazer uma REPORTAGEM EXCLUSIVA para a TV Globo, com o treinador e alguns jogadores...”.

Comunicado do fato, o técnico Dunga, PESSOALMENTE dirigiu-se ao portão e após ouvir da Sra. Fátima o mesmo blá-blá-blá, foi incisivo, curto e grosso, como convém a uma pessoa da sua formação: “Me desculpe, minha senhora, mas aqui não tem essa de “REPORTAGEM EXCLUSIVA” para a rede Globo. Ou a gente fala pra todas as emissoras de TV ou não fala pra nenhuma...”.

Brilhante!!!

Pela vez primeira em mais de 40 anos, um brasileiro peitava publicamente a Vênus Platinada!!!

“Mas... - prosseguiu dona Fátima - esse acordo foi feito ontem entre o Renato (Maurício Prado, chefe de redação de esportes de O Globo) e o Presidente Ricardo Teixeira. Tenho autorização para realizar a matéria”.

Dunga: - “Não tem autorização nem meia autorização, aqui nesse espaço eu é que resolvo o que é melhor para a minha equipe. E com licença que eu tenho mais o que fazer. E pode mandar dizer pro Ricardo (Teixeira) que se ele quer insistir com isso, eu entrego o cargo agora mesmo!”.

O treinador então virou as costas para a supra sumo do pedantismo e saiu sem ao menos se despedir.

Dunga pode até perder a classificação, a Copa, seu time pode até tomar uma goleada, qualquer fiasqueira na África, mas sua atitude passa à história como um exemplo de coragem e independência frente a uma das instituições privadas mais poderosas no País e que tem por hábito impor suas vontades, eis que é líder de audiência e por isso se acha acima do bem e do mal.

Em linguagem popular, o Dunga simplesmente mijou na Vênus Platinada! Sugiro uma estátua para ele!!!

Após, a poderosa Globo, a mesma que levou o Collorido ao poder e depois o detonou por seus interesses, agora difama o Dunga, tá certo que o cara é meio Ogro, mas não teve o direito de se defender dos ataques em momento algum.

Falar mal do cara é liberdade de imprensa. Ouvir o cara não pode?

A reação do povo foi imediata. O editorial lido no programa "Fantástico", da Rede Globo, deu repercussão no mundo virtual. E pela primeira vez na história o Brasil inteiro apóia o técnico da Seleção. Só a Globo para conseguir isso...

Dentre os assuntos mais comentados no Twitter nesta segunda-feira (21), a frase "Cala boca, Tadeu Schmidt" era líder absoluta, superou até a antecessora "Cala Boca, Galvão", que liderou por dias seguidos os Trending Topics.

E não parou por ai. Em apoio ao técnico da seleção brasileira, os twiteiros lançaram o "DiaSemGlobo", que será nessa sexta-feira, quando o Brasil vai jogar com a seleção de Portugal, no encerramento da primeira fase da copa.

Todo mundo na Band, ou em outra emissora, não vamos sintonizar a Globo na sexta-feira, temos que começar a deixar de ser gado manso, mostrar que não somos trouxas manipuláveis.

VAMOS FAZER O BRASIL INTEIRO PENSAR !!!!!

Por outra concepção do desenvolvimento: Fragmento de esperança

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Marilza de Melo Foucher (1)

Constato de um fracasso: Nem tudo é possível!
O paradoxo da historia das grandes nações consideradas desenvolvidas, era de se sentir com a missão coletiva de reconstruir um mundo que eles destruíram com as guerras fratricidas. Entretanto, essa missão não ajudou as nações ditas desenvolvidas a forjar um mundo mais solidário. Pelo fato, que fizeram dos conhecimentos científicos, tecnológicos uma potente arma comercial e passaram a açambarcar o poder econômico, impondo para as regiões por eles consideradas “atrasadas”, ou “subdesenvolvidas” um modelo ocidental de desenvolvimento puramente econômico. A economia torna-se tão determinante que as ideologias do século XIX e XX vão compartilhar da mesma base cultural do liberalismo econômico, a natureza e o ser humano serão tratados como fator de produção, os bens fundamentais como a terra, o ar, a água, as florestas e a vida não terão valor ecológico.
Ao longo dos séculos, o capitalismo se expandiu exportando um tipo de desenvolvimento que vai degradar e esgotar os recursos naturais, destruir relações sociais, sem levar em conta a especificidade cultural e dinâmica locais dos chamados países subdesenvolvidos. As desigualdades sociais, o aumento da pobreza, as diferenças de renda entre os países, a degradação dos ecossistemas rurais e urbanos, passam a serem indicadores do fracasso das políticas chamadas desenvolvimentistas.
Em vez de criar uma cooperação baseada na solidariedade entre os povos, na autonomia para escolher seu próprio desenvolvimento, as grandes potências impõem suas próprias regras. O poder econômico vai subordinar os direitos sociais e políticos ao direito comercial, a vida privada se transforma em mercadoria e o ser vivo será patenteado. Os países ricos irão continuar a pagar licenças para poluir. Tudo virou possível! O constato é que nem tudo é possível.
O mea-culpa das grandes potências. Desenvolvimento sustentável para um planeta enfermo.

Hoje a realidade em que se encontra nosso Planeta Terra é a prova que o desenvolvimento econômico ultrapassou seus próprios limites. Ele se torna globalmente inadaptado e se transforma numa ameaça ao meio ambiente, aumentando a desertificação e provocando a fome de milhares de seres humanos.
A Organização das Nações Unidas, o principal organismo criado para assegurar a paz mundial e reestruturar o mundo através da cooperação internacional, teria também como missão resolver pacificamente os problemas de ordem econômica, social, cultural e humanitária. Apesar de mais de 500 Reuniões de Cúpula de Presidentes e Primeiros Ministros, inúmeras convenções internacionais, as instâncias ligadas à ONU não conseguiram até hoje mudar as regras da globalização excludente.
O espaço de decisão Onusiano, restrito às grandes potências, vai se transformar em uma excelente tribuna para os atores globais assumirem a defesa do novo conceito de desenvolvimento sustentável. Desta vez a economia deveria se conciliar com o social e com o meio ambiente.
Confrontados às catástrofes econômicas e ecológicas e diante do aumento constante da adesão da opinião publica internacional à questão ambiental, os protagonistas do crescimento econômico sustentável, reconvertidos em ecologistas, irão apresentar um novo receituário e definir um aparentemente novo paradigma de desenvolvimento! Nasce assim, a ilusão da sustentabilidade do desenvolvimento coroada de boa vontade política. Mas concretamente o que as grandes potências fazem para sair do campo puramente economicista do desenvolvimento? Por que os países que lideram a governança mundial não levam em conta a dívida financeira e a dívida ecológica que eles fizeram proliferar nos países do Sul? Deixo esta reflexão para o leitor.
Perspectiva de uma governabilidade com desenvolvimento Territorial integrado e solidário para o Brasil. Desafio possível?

A questão do desenvolvimento sustentável que tanto rendeu artigos e projetos é repleta de contradições, dela muitos se apropriaram, mas não pararam para refletir sobre estas contradições para poder agir em conseqüência e reinventar uma nova prática para mudar a realidade em que se vive. Como construir projetos duráveis de desenvolvimento?
Em primeiro lugar, quando se elabora um programa, um plano prioriza-se os projetos e atividades que serão executados ao longo dos anos. Daí faz-se necessário que todos os projetos e atividades sejam pensados, elaborados e implantados de modo global e articulado. Articulados entre a esfera Federal, Estadual e Municipal, assim como, articulados setorialmente e com um acompanhamento coordenado entre as três esferas do poder. Desta forma evita-se a visão setorial do desenvolvimento. Por exemplo, a cultura, o meio ambiente, a economia devem ser tratadas conjuntamente.
Seria como imaginar o funcionamento de um ecossistema. Nos ecossistemas, tudo está em interações, tudo tem efeitos e causas. A mesma coisa é a intervenção humana no campo de desenvolvimento, as questões locais não se dissociam de questões globais, elas estão interconectadas. Em um espaço geográfico, não existe somente bens e circulação de mercadorias, existe os atores, cidadãos com pleno exercício da cidadania, e existe o meio natural. Os cidadãos e suas comunidades não são somente consumidores dentro da rede de mercados e de serviços públicos. Cada cidadão, cada cidadã deve ser responsável pela preservação da natureza, assim como deve ser responsável pelo bom funcionamento do Estado. Quando exigimos nossos direitos devemos também pensar que temos e também deveres diante da República Brasileira.
Aí vem uma reflexão: Como organizar um novo modo de desenvolvimento em um espaço territorial sem tocar na malha do poder?
O desenvolvimento territorial integrado e sustentável exige uma democracia participativa. A democracia representativa será reforçada com a participação da sociedade civil organizada. Cabe aos atores locais de desenvolvimento (comunidades autogestionárias, entidades cooperativas e associativas, empresas, universidades, centro de pesquisas, movimentos sociais e entidades estatais e para-estatais) a responsabilidade de ativar os canais de diálogos e de controle social junto aos Governos (municipal estadual e federal).
Para viabilizar essa forma política inovadora de governabilidade, o ideal seria capacitar lideranças sociais e políticas, altos funcionários e dirigentes para se educar para o exercício do poder. Tendo em vista, que a sociedade brasileira foi durante séculos, caracterizada como uma estrutura autoritária de poder, os governantes bloquearam a participação e criação de direitos. Daí a exigência de mudar nossa relação com o poder, e um programa de educação para o exercício do poder pode ser propício para criar as bases para uma nova governabilidade.
A burocracia brasileira nunca foi uma forma de organização no sentido de “agilizar” o funcionamento da máquina estatal. Ao contrário, ela instala uma forma de poder altamente hierarquizado, com uma cadeia de comando, quem está no nível superior detém os conhecimentos; estes conhecimentos devem permanecer desconhecidos para seus subordinados, que também têm seus subalternos. Privados de conhecimentos, eles não inovam e nem fazem uso de criatividade, eles foram contratados para obedecer às ordens dos escalões superiores. Assim se caracterizou o poder dos altos funcionários públicos, na lógica de que quem detém o saber, detém o poder.
Quanto mais ignorante é o povo, mais fácil será manipulá-lo.
O poder burocrático exercido pela hierarquia é dificilmente assimilado com o poder democratizado, no qual o cidadão funcionário age em função da igualdade dos direitos e se torna um defensor do bom funcionamento da máquina estatal e de uma empresa com finalidade pública.
Esta concepção de burocracia, infelizmente, vai também se instalar em alguns partidos políticos.
O poder na História política do Brasil vai ser praticado como uma forma de tutela e de favor, sem mediações políticas e sociais. O governante é sempre aquele que detém o poder, o saber sobre a lei e sobre o social, privando os governados dos conhecimentos, criando-se assim uma relação clientelista e de favor. O uso abusivo da máquina pública levou à falência o Estado Brasileiro e, hoje, o desafio é restaurar um verdadeiro Estado democrático e cidadão compatível com o modo de desenvolvimento territorial integrado com sustentabilidade ambiental, social, política, cultural, e econômica. Nesse sentido, o modo inovador de desenvolvimento, dentro de uma visão integrada da realidade, exige mudança de atitude, mudança no modo de fazer política. Exige um sistema de educação compatível com este desafio.
Apesar dos avanços que tivemos nessa última década com os dois mandatos do governo Lula, a caminhada para mudanças estruturais é longa... Infelizmente algumas correntes da esquerda brasileira ainda não se deram conta de que é impossível separar a ecologia do modo de desenvolvimento. Ainda existe no meio dos cargos eletivos a predominância do pensamento economicista do desenvolvimento. Basta escutar os discursos da maioria dos governadores, a dificuldade que eles têm de planejamento a curto, a médio e longo prazo, dentro de uma visão mais integrada do desenvolvimento em um espaço territorial.
O período de eleições é sempre um momento propício para somar forças e exigir dos candidatos, um compromisso com o bem-estar das novas gerações e com o futuro de nosso planeta Terra. Devemos nos mobilizar para que o Brasil seja protagonista de outro modo de desenvolvimento que diminua as desigualdades ainda presentes nas regiões brasileiras, conciliando crescimento econômico com respeito aos ecossistemas. A proteção social e ambiental é inseparável. Devemos nos mobilizar para que o combate que o Presidente Lula assumiu contra a pobreza continue. Devemos nos mobilizar também para que o Estado continue no seu papel regulador, a fim de garantir a qualidade nos serviços públicos principalmente na área de educação e na saúde.
Estaria Dilma, candidata de Lula disposta a enfrentar esse desafio? Não vamos deixar a ecologia política nas mãos dos conservadores, de naturalistas iluminados, que na certa, utilizarão a questão ambiental como pretexto para ganhar as eleições. Devemos batalhar para que essa outra concepção de desenvolvimento territorial integrado seja abraçada e defendida por Dilma ou por quem for eleito. Agora que o Brasil é respeitado como grande nação na cena internacional, e convidado à mesa de negociações dos organismos multilaterais, ele deve dar exemplo de que outro desenvolvimento é possível.
(1) Doutora em Economia - Sorbonne
Especialista do desenvolvimento territorial integrado, solidário e sustentável
Paris, 2010-06-18

KKKKKKK

terça-feira, 22 de junho de 2010

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Emir Sader : O que está em jogo nas eleições de 2010

Em quatro meses o Brasil terá decidido quem será o próximo(a) presidente(a). Destaca-se muitos aspectos da particularidade desta campanha, desde o de que Lula não será candidato, pela primeira vez, desde que o fim da ditadura trouxe as eleições, até o do protagonismo de duas mulheres entre os três principais candidatos.

Mas o tema mais importante é o do julgamento de um governo até aqui sui generis na história política do país. Um presidente de origem operária, imigrante do nordeste, chega ao final do seu mandato com a maior popularidade da história do país e submete democraticamente seu governo a uma consulta popular, mediante a apresentação como sua possível sucessora da coordenadora do seu governo.

Um governo que começou rompendo o caminho do Área de Livre Comércio das Américas, conduzido pelo governo anterior, que teria levado o Brasil e todo o continente à penosa situação do México: 90% do seu comércio exterior com os EUA, como reflexo disso na crise retrocedeu 7% seu PIB no ano passado, foi ao FMI de novo, assinando a Carta de Intenções (deles).

O novo governo promoveu uma reinserção internacional do Brasil, privilegiando os processos de integração regional e as alianças com o Sul do mundo. A China tornou-se o primeiro parceiro comercial do Brasil, o segundo é a América do Sul como um todo, em terceiro os EUA. A crise revelou os efeitos dessa mudança: pudemos superá-la rapidamente pela diversificação do comercio internacional e a menor dependência das relações com os EUA, a Europa e o Japão. (Além do papel importante do mercado interno de consumo populasr.)

Esse é um dos temas que está em jogo: o lugar do Brasil no mundo. Seguir aprofundando essa nova inserção ou voltar à aliança subordinada com os EUA e as potências centrais do sistema.

O outro tema – em que igualmente houve maior mudança na passagem do governo FHC para o de Lula: as políticas sociais. No governo anterior, a distribuição de renda seria resultado mecânico da estabilidade monetária. Controlada a inflação – “um imposto aos pobres” -, se recuperaria capacidade de compra dos salários.

No governo Lula, as políticas sociais tiveram um papel reitor. O modelo econômico não separava o crescimento econômico e a distribuição de renda. A recuperação da capacidade do Estado de promover o desenvolvimento – este um tema abolido no governo FHC – foi também um aspecto novo, junto à extensão do mercado interno de consumo de massas. Mudou a direção do comercio exterior e seu peso, reforçando-se o mercado interno.

Esse tema também está em jogo. Os governos neoliberais deram prioridade ao ajuste fiscal, ao controle inflacionário. O governo Lula priorizou a esfera social.

Está em jogo também o papel do Estado. Como costuma acontecer, o candidato opositor considera excessiva a presença do Estado, a carga tributária, os gastos estatais, os investimentos e os custos da maquina estatal. As criticas ao supostos “corporativismo” e a comparação com Luis XIV tem como direção o Estado mínimo e a presença maior do mercado.

No seu sentido geral, podemos dizer que as eleições deste ano definem se o governo Lula é um parêntese, com o retorno das coalizões tradicionais que governaram o Brasil ao longo do tempo ou se é uma alavanca para definitivamente sair do modelo neoliberal e construir uma sociedade justa, solidária, democrática e soberana. Caso se dê esta última alternativa, os setores conservadores sofrerão uma derrota de proporções, com toda uma geração dos seus representantes políticos praticamente terminando suas carreiras e abrindo espaço para grandes avanços na direção das orientações do governo Lula.

Postado no blog do Emir, dia 21, segunda.

Encontro do PT Minas surpreende pela grande participação

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Realmente o Encontro Estadual do PT surpreendeu pelo bom debate e o alto nível de participação. Depois de tanto vai e volta, enfim o Partido pôse se encontrar. Ficou claro que o Patrus é querido por todos para que seja o Vice-Governador. Ele sinalizou que esta semana define. Ficou garantido também que o PT indicará o primeiro suplente de Fernando Pimentel ao Senado. O nome será escolhido no Diretório. Indicações devem ser feitas até o dia da reunião do Diretório, que será dia 27, e, em seguida a Convenção oficial.
Assim, a possibilidade da eleição de Hélio Costa/Patrus e Pimentel ao Senado é muito grande. Para garantir, basta boas agendas com Lula. Assim Dilma terá uma bela vitória em Minas também!

Sobre a biografia de Hélio Costa

Por Chico Simões*,

Fantasias, fontes sigilosas, futuro do pretérito e etc., assombram as redações.

Agora, querendo intrigar o PT e, especificamente, Patrus Ananias, com Lula, Dilma e com o PMDB, setores da imprensa criaram uma “forte” resistência a que Patrus fosse vice de Hélio.

Um dos motivos seria o pedante argumento de que Patrus entraria como vice, apenas para “lavar” a biografia do senador. Esse argumento grosseiro é um desrespeito ao presidente Lula, que teve Hélio Costa em seu ministério por 7 anos e quatro meses!

Posso afirmar com toda a certeza: a maioria que apoiou Patrus nas prévias petistas apóia sua integração na campanha, como vice de Hélio.

Ademais, biografias não são “laváveis”. E de assepsia eu entendo.

Mas não é sobre isso que escrevo agora. A questão é outra.

Como prefeito, sei que qualquer figura pública, investida em cargo eletivo ou não, está sujeita a processos e condenações (justos ou não). Há casos de ex-presidentes, ex-governadores, ex-prefeitos e ex-parlamentares, enfrentando processos há mais de dez anos. A regra é que acusações formais, processos e condenações assombrem gestores públicos.

Pois bem, voltando à biografia de Hélio Costa: fui verificar as tais “manchas”. Fui aos sites dos tribunais superiores (STF, STJ, TSE), nas respectivas instâncias regionais, no TCU e TCE, na CGU. Fui ao Google. Consultei experientes parlamentares. Perguntei a advogados. Assuntei, informalmente, o ministério público. Indaguei a adversários políticos. NADA. Portanto, salvo engano, as “manchas” não estão no plano jurídico.

Estariam no terreno político?

Perguntemos ao DIAP. Perguntemos a Lula, que o manteve nos dois governos que preside. Hélio não é petista, socialista ou marxista. Mas esses são critérios para alianças? A propósito, Pimentel ou Patrus, se candidatos, iriam querer seu apoio. Com as diferenças e biografias reais.

Busquemos na memória: à esquerda, nutríamos por ele uma antipatia por ter sido repórter da rede Globo. Convenhamos, as resistências à Globo se mantêm. Mas a quem nela trabalha ou trabalhou, a priori, não.

À direita, nutre-se um desprezo a ele por razões de classe: filho de gente simples, que desafiou a oligarquia imperial de Barbacena e que depois resolveu “furar a fila” das elites mineiras e “peitar” garcias, azeredos e neves... isso é demais para as “elites cheirosas”.

Nós, que sonhamos com um candidato petista em 2010, acordamos com uma candidatura do PMDB, que é fruto de um acordo condicionado nacionalmente. Mas, de uma coisa temos certeza. Se tal acordo não é o do sonho anterior, o pesadelo tem nome: Anastasia. É preciso viver a realidade, sem cultivar preconceitos. Hélio integra o projeto que busca evitar a volta dos tucanos ao Planalto e construir um novo rumo para Minas. Isso não é pouco.

“Lavar biografias”... que bobagem!



* Chico Simões é membro do Diretório Estadual do PT e Prefeito de Coronel Fabriciano - MG. Pertente à Corrente Interna Coerência Petista.

Jingle da Dilma

segunda-feira, 14 de junho de 2010

É só acessar abaixo. Ajude a divulgar.


Reginaldo vira página principal no site de Anastasia, com entrevista retardatária

domingo, 13 de junho de 2010

Incrível, o nível de lambança faz o presidente do PT/MG deputado Reginaldo Lopes. Tentando limpar sua barra pessoal depois da palhaçada que fez com o PT em Minas, concede entrevista ao jornal O Tempo. A entrevista é inoportuna, grotesca e irresponsável, pois presidente que entrega o partido não pode falar nada depois do que fez! Ainda mais que tem por objetivo apenas tentar se proteger, sem pensar nas consequências com o candidato que acabou de escolher, o Ex-Ministro Hélio Costa do PMDB.

Perguntas ao presidente do PT: Depois que passou tudo, Reginaldo diz que foi erro histórico o PT não lançar candidato em Minas. Por quê não juntou todo o PT para lutar pela candidatura do vencedor das prévias? Por quê Pimentel não foi a uma reunião da Executiva Estadual sequer? Por quê os vencedores da prévia não procuraram NINGUÉM fora de seu mundinho para encaminhar a luta pela candidatura de Pimentel?

Conclusão: A entrevista retardatária de Reginaldo foi parar na cara do site do Anastasia dia 13/06/2010, mesmo dia da Convenção que escolheu Dilma/Temer.
Vão gostar do PSDB/Aécio assim lá em São João Del Rei!!!!!
Veja a cara do site do Anastasia, abaixo, dia 13. É de dar revolta pela desfaçatez do Reginaldo!

Clique aqui para ver:Site do Anastasia

Matéria do Blog do Anastasia:

Reginaldo Lopes: “O PT não ter candidato em Minas é um erro histórico”
domingo, 13/06/2010, por Equipe do Blog
FRASE DO DIA: “O PT não ter candidato em Minas é um erro histórico” (Reginaldo Lopes, presidente do PT-MG)

A afirmação de Reginaldo Lopes, presidente do PT de Minas Gerais e deputado federal, foi feita em entrevista concedida à jornalista Carla Kreefft, da editoria de política do jornal O Tempo, publicada neste domingo(13/06). Segundo ele, “a mililitância do PT sonhou em poder governar Minas e agora vai ter o sonho adiado”.
Leia o trecho da entrevista:

O Tempo: Mas é a primeira vez que o PT não tem candidato ao governo de Minas. Isso é uma derrota?

Reginaldo Lopes: O PT não ter candidato em Minas é um erro histórico. O PT em Minas tem duas grandes lideranças e é evidente que não é fácil para a militância do PT aceitar com tranquilidade que nenhuma dessas duas está encabeçando uma candidatura no Estado. A militância do PT sonhou em poder governar Minas e agora vai ter o sonho adiado.

Cadê o Green Peace e as ONGs ambientalistas no desastre da British Petroleum?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Também tomei a liberdade de reproduzir o texto abaixo, muito elucidativo e adequado:


Caros amigos,



Peço-lhes licença para uma pequena reflexão.



Outro dia, lendo um blog, chamou-me à atenção uma pergunta feita pelo blogueiro: "onde está o Greenpeace neste acidente da British Petroleum?". Boa pergunta! Aí me acendeu um bocado de??????????????????? interrogações. Não antes, porém, lembrar-me do processo, quando do leilão de Belo Monte. Tínhamos contra (ou torcendo para dar errado), só que me lembro agora: O Globo, Rede Globo, Folha, Estadão, CBN e seus “analistas políticos” (Merval Pereira e Sonia Hipólito), os "econômicos" (Sardemberg e Mirian Leitão), os "apresentadores" (Heródoto Barbeiro e Adalberto Piotto) o "ecológico" Sergio Abranches, uma multidão de "ONGs" (inclusive estadunidense), uma multidão de ambientalistas/verdes, igrejas, atores hollywoodianos, enfim, uma multidão de gente.



Pois bem, a pergunta é: não só o Greenpeace, mas, onde estão todas essas pessoas? analistas, ambientalistas, verdes, religiosos, atores,neste que já pode ser considerado o maior desastre ecológico do mundo? Todo o golfo poderá ter sua fauna e flora marinha comprometida de forma irreversível. A grande imprensa, pelo menos no Brasil, trata o tema como se fosse uma informação corriqueira. Na época do debate sobre Belo Monte, dava um destaque ao projeto da usina, como se governo estivesse na eminência de cometer um genocídio.



Toda a mídia se refere à British Petroleum como BP, numa clara tentativa de escamotear quem efetivamente é e de onde vem a empresa responsável pela catástrofe. E como se não bastasse, entram no joguete midiático da Casa Branca, anunciando que o presidente Obama “quer saber em quem ele tem dar um chute no traseiro”, como se fosse resolver assim, um acidente que é devastador para a humanidade. Evidentemente trata-se de amenizar o problema, repercutindo-o com “humor”. O tal ecologista da CBN, Sergio Abranches, chega ao cúmulo de puxar o problema para o Brasil, quando insinua: “isso deve alertar aos brasileiros para a exploração e prospecção da Petrobrás no pré-sal”, ou seja, levantando problema onde não tem e relativizando o desastre. Total cinismo.



Não sou adepto da teoria da conspiração, mas quando paramos para refletir as ações e atitudes de determinado segmentos políticos e, sobretudo midiáticos, tem-se claramente o movimento da manobra. Esse caso da British Petroleum, se não houver um mínimo de coerência entre os que se proclamam defensores da natureza, perderam qualquer autoridade para manifestar-se no futuro. O tema está muito barato, para não dizer de graça, tanto para o governo dos EEUU, quanto para a empresa Britânica. Se encerrar assim, será ainda mais trágico e tal conferência para o clima, a realizar-se no (golfo) México, será uma grande farsa recheada de petróleo cru.



Abraço.



Amauri Barros.

Agora o mais importante é o projeto. Não viemos para continuar o Aecismo

terça-feira, 8 de junho de 2010

por Gleber Naime

A desistência de Fernando Pimentel em concorrer ao governo de Minas, como anunciado ontem, deixa um forte sentimento de traição na militância que participou das prévias e queria uma candidatura própria do PT. “Se era para renunciar, por que disputou?”, é a pergunta que não se cala.

À parte esse sentimento, é preciso compreender que o processo em Minas demorou por demais. A divisão que se estabeleceu no PT após a entrega da Prefeitura de Belo Horizonte em 2008, que explicitou uma política de aproximação com o PSDB, ainda não foi resolvida. No PED, quase conseguimos vencer. Mas o PT continuou dividido bem ao meio. Nas prévias, a mesma coisa: nenhuma opinião foi amplamente majoritária. Isso explica a dificuldade da direção estadual em dar rumo claro às questões que lhe são colocadas.

Mas, se a prioridade é elegermos a companheira Dilma e darmos continuidade aos avanços obtidos no governo do presidente Lula, precisamos avançar em Minas em um ponto que sempre nos uniu: a discussão de um Programa Democrático-Popular para o Estado.

É fato que não queremos continuar com o governo de Aécio. Para isso já tem o Anastasia! Na impossibilidade do candidato petista, o palanque com o PMDB/PT deve estabelecer o rumo que queremos dar para Minas e é isso que deve pautar nossa atuação nesse momento.

O PT deve ocupar espaços, debater e apresentar um Programa que sintonize Minas com o Brasil; que se alinhe programaticamente, e nas ações, ao Governo Federal; que promova mais igualdade social e regional, que implante políticas públicas inclusivas, de afirmação da cidadania e de superação da pobreza.

Ao mesmo tempo, PMDB e PT devem construir uma aliança de centro-esquerda em Minas que dialogue abertamente com os servidores públicos e com os movimentos sociais e implemente uma política mais aberta, participativa e democrática no Estado.

Desse modo, a candidatura de Hélio Costa (PMDB) ao governo, com o apoio do PT, terá nitidez programática e compromissos sociais claros. A aliança será traduzida em conteúdos, ações, projeto. É isso que a militância do PT, do PC do B, e a força do PMDB e de demais partidos da base precisam construir.

É possível, sim, ganharmos o governo de Minas e iniciarmos as mudanças necessárias no nosso Estado. Para isso, é preciso pôr fim à encenação e começar a jogar! Agora são dois times no Brasil e em Minas. De um lado, Hélio e Dilma, de outro, Anastasia e Serra. A campanha tem tudo para ser vitoriosa, se bem conduzida e rompendo com a confusão estabelecida na disputa de BH em 2008, que só fortaleceu os adversários tucanos e neoliberais mineiros. Vamos à luta!

E agora, José?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A saudade do escravo na velha diplomacia brasileira, por Leonardo Boff

As elites brasileiras, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca aceitaram Lula porque pensam que seu lugar não é na Presidência, mas sim na fábrica produzindo para elas. A nossa imprensa comercial é obtusa face ao novo período histórico que estamos vivendo. Por isso abomina também a diplomacia de Lula.

Leonardo Boff

O filósofo F. Hegel em sua Fenomenologia do Espírito analisou detalhadamente a dialética do senhor e do escravo. O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o escravo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de escravidão. A mesma dialética identificou Paulo Freire na relação oprimido-opressor em sua clássica obra Pedagogia do Oprimido. "Com humor comentou Frei Betto: "em cada cabeça de oprimido há uma placa virtual que diz: hospedaria de opressor". Quer dizer, o oprimido hospeda em si o opressor e é exatamente isso que o faz oprimido". A libertação se realiza quando o oprimido extrojeta o opressor e ai começa então uma nova história na qual não haverá mais oprimido e opressor, mas o cidadão livre.

Escrevo isso a propósito de nossa imprensa comercial, os grandes jornais do Rio, de São Paulo e de Porto Alegre, com referência à política externa do governo Lula no seu afã de mediar junto com o governo turco um acordo pacífico com o Irã a respeito do enriquecimento de urânio para fins não militares. Ler as opiniões emitidas por estes jornais, seja em editoriais seja por seus articulistas, alguns deles, embaixadores da velha guarda, reféns do tempo da guerra-fria, na lógica de amigo-inimigo é simplesmente estarrecedor.

O Globo fala em "suicídio diplomático" (24/05) para referir apenas um título até suave. Bem que poderiam colocar como sub-cabeçalho de seus jornais: "Sucursal do Império", pois sua voz é mais eco da voz do senhor imperial do que a voz do jornalismo que objetivamente informa e honestamente opina. Outros, como o Jornal do Brasil, têm seguido uma linha de objetividade, fornecendo os dados principais para os leitores fazerem sua apreciação.

As opiniões revelam pessoas que têm saudades deste senhor imperial internalizado, de quem se comportam como súcubos. Não admitem que o Brasil de Lula ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante como o repetiu, há pouco, no Brasil, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-moon. Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata. Posso imaginar o quanto os donos desses jornais sofrem ao ter que aceitar que o Brasil nunca poderá ser o que gostariam que fosse: um Estado-agregado como são Hawaí e Porto-Rico. Como não há jeito, a maneira então de atender à voz do senhor internalizado, é difamar, ridicularizar e desqualificar, de forma até antipatriótica, a iniciativa e a pessoa do Presidente. Este notoriamente é reconhecido, mundo afora, como excepcional interlocutor, com grande habilidade nas negociações e dotado de singular força de convencimento.

O povo brasileiro abomina a subserviência aos poderosos e aprecia, às vezes ingenuamente, os estrangeiros e os outros povos. Sente-se orgulhoso de seu Presidente. Ele é um deles, um sobrevivente da grande tribulação, que as elites, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca o aceitaram porque pensam que seu lugar não é na Presidência mas na fábrica produzindo para elas. Mas a história quis que fosse Presidente e que comparecesse como um personagem de grande carisma, unindo em sua pessoa ternura para com os humildes e vigor com o qual sustenta suas posições.

O que estamos assistindo é a contraposição de dois paradigmas de fazer diplomacia: uma velha, imperial, intimidatória, do uso da truculência ideológica, econômica e eventualmente militar, diplomacia inimiga da paz e da vida, que nunca trouxe resultados duradouros. E outra, do século XXI, que se dá conta de que vivemos numa fase nova da história, a história coletiva dos povos que se obrigam a conviver harmoniosamente num pequeno planeta, escasso de recursos e semi-devastado. Para esta nova situação impõe-se a diplomacia do diálogo incansável, da negociação do ganha-ganha, dos acertos para além das diferenças. Lula entendeu esta fase planetária. Fez-se protagonista do novo, daquela estratégia que pode efetivamente evitar a maior praga que jamais existiu: a guerra que só destrói e mata. Agora, ou seguiremos esta nova diplomacia, ou nos entredevoraremos. Ou Hillary ou Lula.

A nossa imprensa comercial é obtusa face a essa nova emergência da história. Por isso abomina a diplomacia de Lula.


Leonardo Boff é teólogo e escritor.