Primeira entrevista do Patrus após as prévias

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Política - Jornal o Tempo dia 14/05/2010

Entrevista


"Mesmo não sendo candidato, estarei à disposição para ajudar"
Patrus Ananias Ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Derrotado nas prévias do PT para escolha do candidato ao governo de Minas, Patrus ainda não decidiu seu futuro, mas deixa claro que pode optar apenas pelo papel de militante e não ser candidato a nada. Entretanto, não abre mão de participar das campanhas de Minas e da ex-ministra Dilma Rousseff.

Qual é o balanço das prévias?

Considero que foi um processo muito positivo, como são sempre as prévias no PT. Eu sempre defendi as prévias. Desde que eu coloquei meu nome como de candidato, eu venho defendendo as prévias. Penso que foi bom a gente ter realizado, acho que elas vieram com alguns entraves, que não comprometem o processo. É importante registrar que as prévias foram marcadas em um período muito curto, de 15 dias, não houve debates, o período foi muito limitado, mas de qualquer forma foi muito bom, mais de 30 mil militantes votaram - uma coisa forte, bonita, democrática, em um contexto de mais de 100 mil filiados. Teve da minha parte um processo intenso, viajei muito pelo Estado, por todas as regiões de Minas, dezenas de regiões. Penso que dei a minha contribuição. O resultado não nos foi favorável, mas entendo que o processo foi muito bom.

Houve desestímulo da militância no processo?

Houve. Havia uma insistência muito grande de alguns órgãos de imprensa e de algumas lideranças do PT em dizer que as prévias não eram para valer, que havia um acerto definitivo com o PMDB. Isso, claro, que desmotivou uma parte da militância.

O senhor não acredita que há interferência das cúpulas nacionais do PT e PMDB em favor da escolha de Hélio Costa?

A interferência certamente existe e é legítima. No último Congresso do PT, do qual eu fui delegado, eu votei que o nacional tivesse poder para fazer interferências aqui em último caso. Sempre defendi o PT como partido nacional. E foi com esse processo que nós elegemos o presidente Lula. Eu saí do ministério com um projeto de governar Minas Gerais, sabendo que eu teria que enfrentar muito desafios, o primeiro seria ganhar as prévias e unificar o PT de Minas, mas sabia que o segundo critério seria trabalhar para viabilizar a candidatura dentro de uma unidade mais ampla. É muito difícil nós ganharmos em Minas sem fazer uma aliança programática, ética. O PMDB tem presença, familiaridade no Estado. É importante buscarmos também outros partidos da base aliada. Sempre defendi também que deveríamos incorporar lideranças dos movimentos sociais.

O senhor vai colocar seu nome à disposição dessa chapa da base?

O meu compromisso com o projeto é permanente. Meu compromisso com o PT, com nosso projeto nacional, é permanente, passando também por Minas Gerais - um projeto de resgate do Estado, com as políticas sociais, com compromisso prioritário com os mais pobres, economia solidária, desenvolvimento regional. Meu compromisso é permanente. Sou militante desde os 13 anos. Mas nesse momento também considero que a política a serviço do bem comum não se faz somente no campo dos mandatos. Penso que há um espaço da política fora do espaço eleitoral. Dentro do próprio PT, nessa renovação política, nessa juventude. Quero também estudar, ler, ser professor. O projeto do governo de Minas não era um projeto meu, era um projeto coletivo. Como nosso projeto coletivo não se viabilizou, eu acho que devemos refletir. Claro que estou abrindo um processo de conversa com as pessoas, com os partidos, com as militâncias que me apoiaram e me estimularam a ser candidato.

Isso significa que o senhor não vai se decidir agora?

Não. Não tem nada definido, as informações que eu tenho é que a chapa majoritária deverá fechar até o dia 6 de junho, as convenções partidárias estão marcadas para meados de junho. E o acerto final da aliança em torno do dia 26. Então, tem prazo e, durante esse tempo, eu estarei pensando.

E o senhor continuará torcendo para o PT encabeçar a chapa?

Claro. Eu penso que há um sentimento de mudança. Penso que o PT expressa mais do que qualquer partido - com todo respeito a esses partidos -, esse sentimento de mudança, esse compromisso histórico com as políticas sociais, com os pobres, com os trabalhadores, com a democracia participativa, com a busca de integração do econômico com o social. Então é claro que, como militante do PT, gostaria muito de ver o PT disputando e ganhando as eleições em Minas. Mas é claro que temos certeza de que vamos ter uma aliança, que seja uma aliança programática, e eu me disponho a colaborar. Eu acho que está na hora de colocar na mesa PT, com PMDB, PCdoB, partidos que estamos conversando, PDT, PR, PSB, com os quais temos uma relação histórica, gostaria muito também de ter o PV. Penso que está na hora de discutirmos o que nós queremos para Minas Gerais.

Independentemente de participação na chapa majoritária aqui em Minas, o senhor vai contribuir efetivamente com as campanhas mineira e nacional?

É claro que tem que acertar o espaço, independente de eu ser ou não candidato. O meu compromisso com o PT, como falei, é permanente. Mesmo não sendo candidato, eu estarei à disposição para participar e ajudar em tudo que for possível tanto na campanha estadual quanto na federal. Eu estarei onde estiver meu partido. Mesmo não sendo candidato, se não for, eu estarei disponível para que as conquistas que tivemos no governo Lula continuem, sobretudo tendo uma incidência maior aqui em Minas Gerais também.

O senhor sai desse processo chateado, magoado com alguma coisa? Ou o senhor sai desse processo pessoalmente bem?

Saio desse processo pessoalmente bem. É claro que perder não é bom não, é um exercício também de humildade. Ouvi uma frase uma vez muito bonita, que eu guardei, que é "quem não sabe perder, não merece ganhar". A gente tem que saber perder. Eu queria as prévias, coloquei algumas ressalvas como a questão do prazo, a questão do tempo, mas não compromete. Estou com a consciência muito tranquila e o coração muito aquecido. Eu fiz a opção que queria fazer. A saída do ministério foi muito difícil para mim pela relação profunda que eu estabeleci com ele. Lá estive por mais de seis anos e o ministério se tornou uma referência em termo de politicas sociais transparentes e eficazes. O Brasil virou uma referência no mundo em termos de politicas sociais de combate à fome. Nós estamos superando a fome no Brasil. Isso é uma conquista histórica.Então eu acho que foi uma opção consciente. Disputei as prévias, não foi possível ganhar. Agora é seguir com novos horizontes. Tenho essa alegria, que Deus me deu, de ter diferentes caminhos na minha vida. Sou militante político e histórico, mas não sou necessariamente um militante de eleições. Quando eu fiz a minha opção pelo PT, no alvorecer do partido, foi uma opção de longo prazo, não tinha uma expectativa de ser, 12 anos depois, prefeito de Belo Horizonte, 22 anos depois já estava chegando à Presidência com o Lula, como ministro. Eu tenho uma alegria enorme pelo que a gente fez. Tenho uma possibilidade enorme de refletir sobre a perspectiva de não disputar uma eleição e voltar às salas de aula, retomar meu trabalho como funcionário concursado na Assembleia Legislativa de Minas e ter um tempo maior para ajudar o PT e os movimentos sociais a refletir um pouco mais.

O senhor tem manifestado preocupação com o PT. O senhor acha que o partido está em um descaminho?

Não. Não acho que é um descaminho. O PT cresceu e cresceu muito. Sem nenhum preconceito, sem nenhum pré-julgamento, o partido cresceu muito e é bom que cresça. Mas é claro que nós incorporamos também muitas pessoas, com mandatos, que trouxeram suas bases, que não partilham de nossos compromissos. É uma dialética, acho que o partido tem que lutar pelos compromissos históricos e éticos e pelo compromisso com a democracia. Que o PT cresça, mas que continue sendo um partido de esquerda. (Carla Kreefft)


Publicado em: 14/05/2010

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