terça-feira, 12 de abril de 2011
11/04/2001
Fatos aparentemente desconexos
> A semana que passou foi marcada por fatos aparentemente desconexos.
> Num fato até então inédito no Brasil, um psicopata invade uma escola
> nos subúrbios do Rio, mata a tiros 12 crianças, fere mais de 20 e se
> suicida, após ser contido em sua fúria assassina pelo tiro de um
> policial. Noutro fato, também inédito nas relações internacionais do
> Brasil, a Organização dos Estados Americanos, por solicitação de uma
> entidade brasileira, exige do governo brasileiro a paralisação das
> obras da hidrelétrica de Belo Monte. Finalmente, num fato
> surpreendente para algumas correntes do PT, que tinham a esperança de
> contar com Aécio Neves como aliado, o ex-governador de Minas faz um
> discurso no Senado, tendo como alvo principal de seus ataques
> justamente o PT e sua história, em contraposição à história do PSDB.
>
> No primeiro fato, se seguíssemos com atenção os noticiários dos meses
> mais recentes, poderíamos ter presumido que algo de mais grave estaria
> por acontecer. Crimes sucessivos, envolvendo jovens e crianças, sem
> motivação muito clara, vinham se repetindo numa sucessão macabra em
> quase todos os estados do país. Quase todos com armas de fogo
> nacionais, adquiridas legal ou ilegalmente.
>
> Paralelamente, pela coragem de uma mulher do povo, descobriu-se que as
> patrulhas policiais haviam criado uma nova forma de fazer justiça com
> as próprias mãos, matando infratores à queima roupa, e
> transportando-os a seguir para hospitais, como feridos em tiroteio.
> Nos boletins de ocorrência constavam mortes durante o transporte de
> socorro. Apenas em São Paulo, suspeita-se do assassinato de mais de
> 450 pessoas através dessa nova modalidade. Dificilmente se pode crer
> que esta seja uma criação exclusivamente paulista.
>
> Temos, pois, num crescendo, uma preocupante banalização da violência
> criminal, individual e coletiva, na contramão do arrefecimento da ação
> armada de traficantes e outros tipos de banditismo, pelo menos no Rio
> de Janeiro, possivelmente pressionando a ação de psicopatas.
>
> No segundo fato, encontramos a tentativa explícita de interferência
> nos assuntos internos de um país. Os Estados Unidos já haviam voltado
> a proclamar seu direito de declarar guerras preventivas, como fizeram
> no Afeganistão e no Iraque. Agora, juntamente com França, Inglaterra e
> Itália, com suporte da OTAN, e utilizando uma resolução ambígua da
> ONU, interferem militarmente, descarada e abertamente, na Líbia,
> novamente a pretexto de derrubar um ditador.
>
> O mais chocante é que a imprensa, grande parte dos jornalistas, e
> mesmo setores de esquerda, acham isso normal. Não é por acaso, assim,
> que entidades que formalmente pretendem defender os índios e o meio
> ambiente, ao invés de mobilizarem o povo brasileiro para decidir as
> pendências nacionais, se arrogam o direito de apelar para um organismo
> internacional tomar a si a tarefa de tomar tal decisão. E que tal
> organismo, a OEA, ao contrário de se declarar incompetente para
> resolver problemas internos dos países, tenha achado natural exigir do
> governo brasileiro paralisar um de seus principais empreendimentos
> energéticos.
>
> Temos, pois, num crescendo, uma preocupante banalização da violência
> de interferência de potências e organismos internacionais nos negócios
> internos de países independentes, na contramão do desejo soberano dos
> povos decidirem seu próprio destino, seja contra ditadores, seja
> contra colonizadores, seja contra o tipo de vida que vinham levando.
>
> No terceiro fato, nos defrontamos com a liderança do PSDB, que
> pretensamente estabeleceria pontes de entendimento com o governo
> federal dirigido pelo PT, disparando torpedos contra esse partido. É
> provável que esta tenha sido a condição para um acordo interno da
> oposição de direita, através do qual Serra passa o cetro para Aécio,
> mas sob a condição deste não dar qualquer trégua ao PT. E, por mais
> que o novo líder tucano tenha se resguardado de fazer ataques frontais
> ao governo, não há dúvidas de que tais ataques estavam embutidos em
> sua tentativa de desqualificação do PT.
>
> Temos, finalmente, mais uma banalização da violência, desta vez na
> tentativa de mascarar o real papel histórico do PSDB e de esconder sua
> rápida transformação de um pseudo-partido social-democrata e
> progressista, num partido de direita, com tendências de se tornar
> ultra-direitista, no velho estilo da antiga União Democrática
> Nacional.
>
> O nexo da banalização da violência, seja da criminalidade bestial, da
> interferência descarada nos assuntos internos de países independentes,
> e da distorção da história, embora aparentemente através de fatos tão
> dispares, talvez contribua para alertar nosso povo de que estamos
> diante de fenômenos nacionais e internacionais que demandam a
> mobilização e a intensificação dos laços de solidariedade popular,
> democrática e nacional.
>
> Nesse sentido, é bem-vinda a decisão do professor Bresser Pereira, um
> dos fundadores do PSDB, que não só abandonou esse partido, como fez
> questão de desnudar sua verdadeira natureza. Segundo ele, já no
> governo FHC o partido caminhava para a direita muito claramente. Com a
> vitória do PT, em 2002, o PSDB continuou sua marcha acelerada para a
> direita e, desde 2006, tornou-se o partido dos ricos.
>
> Ainda segundo Bresser Pereira, pela primeira vez na história do Brasil
> houve eleições em que ficou absolutamente nítida a distinção entre a
> direita e a esquerda, ou seja, entre os pobres e a classe média e os
> ricos. E um partido dos ricos não lhe serve, seja pela sua posição
> social-democrata, seja pela sua posição nacionalista econômica. Ele
> reconhece que tanto ele quanto o PSDB mudaram. Este mais para a
> direita e ele um pouco mais para a esquerda, recuperando algumas
> ideias nacionalistas que achava muito importantes.
> Bresser Pereira também reconhece que a democracia sempre foi uma
> demanda dos pobres, dos trabalhadores, de classes médias republicanas,
> nunca foi dos ricos. Os ricos odeiam a democracia, embora digam que
> defendem. Se não têm ódio, pelo menos têm medo da democracia. Ele
> também retoma sua antiga posição de democrata radical, denunciando que
> a corrupção existe porque o capitalismo é essencialmente um sistema
> corrupto e os capitalistas estão permanentemente corrompendo o setor
> público.
> Finalmente, Brasser confessa que acreditava piamente na competição
> capitalista e não entendia o sentido do conceito de fraternidade.
> Apenas há pouco descobriu que ele é absolutamente fundamental, porque
> na sociedade capitalista existe uma quantidade muito grande de pessoas
> cuja capacidade de competir é muito limitada, e não são capazes de se
> defender da competição como devem. É por isso que ele considera o
> Bolsa Família um mecanismo altamente fraterno, solidário.
> Talvez sabendo a importância da solidariedade, há muito temos
> reiterado que o PSDB é o principal inimigo político do povo
> brasileiro, sendo inconsistente incutir qualquer ilusão a respeito de
> uma possível semelhança entre o tucanato e o petismo. Neste momento de
> tensão, causado pela banalização da violência criminal, da violência
> da interferência das potências e organizações nos problemas internos
> dos países, e da violência verbal da nova liderança tucana, é
> reconfortante constatar que Bresser Pereira redescobriu a fraternidade e a solidariedade.
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