Lula em Paris: imprensa sabuja dá vexame

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Publicado em 28/09/11 às 12h10
http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2011/09/28/lula-em-paris-imprensa-sabuja-da-vexame/

Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?


Começa assim, acreditem, com esta pergunta indecorosa, a entrevista de Deborah Berlinck, correspondente de "O Globo" em Paris, com Richard Descoings, diretor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o Sciences- Po, que entregou o título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente Lula, na tarde desta terça-feira.


Resposta de Descoings:


"O antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande acadêmico (...) O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences- Po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente do diploma universitário. Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade".


A entrevista completa de Berlinck com Descoings foi publicada no portal de "O Globo" às 22h56 do dia 22/9. Mas a história completa do vexame que a imprensa nativa sabuja deu estes dias, inconformada por Lula ter sido o primeiro latino-americano a receber este título, que só foi outorgado a 16 personalidades mundiais em 140 anos de história da instituição, foi contada por um jornalista argentino, Martin Granovsky, no jornal Página 12.


Tomei emprestada de Mino Carta a expressão imprensa sabuja porque é a que melhor qualifica o que aconteceu na cobertura do sétimo e mais importante título de Doutor Honoris Causa que Lula recebeu este ano. Sabujo, segundo as definições encontradas no Dicionário Informal, significa servil, bajulador, adulador, baba-ovo, lambe-cu, lambe-botas, capacho.


Sob o título "Escravocratas contra Lula", Granovsky relata o que aconteceu durante uma exposição feita na véspera pelo diretor Richard Descoings para explicar as razões da iniciativa do Science- Po de entregar o título ao ex-presidente brasileiro.


"Naturalmente, para escutar Descoings, foram chamados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser amável e didático (...). Um dos colegas perguntou se era o caso de se premiar a quem se orgulhava de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e deu um olhar de assombrado(...).


"Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção", foi a pergunta seguinte. O professor sorriu e disse: "Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o julgamento da História este assunto e outros muito importantes, como a eletrificação das favelas em todo o Brasil e as políticas sociais" (...). Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente, não damos lições de moral a outros países.


"Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa de Lula era parte da ação afirmativa do Sciences Po. Descoings o observou com atenção, antes de responder. "As elites não são apenas escolares ou sociais, disse. "Os que avaliam quem são os melhores, também. Caso contrário, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro-mecânico que chegou à presidência, mas pelo que entendi foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas".


No final do artigo, o jornalista argentino Martin Granovsky escreve para vergonha dos jornalistas brasileiros:


"Em meio a esta discussão, Lula chegará à França. Convém que saiba que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. No Brasil, a Casa Grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terra e escravos. Assim, Lula, silêncio por favor. Os da Casa Grande estão irritados".


Desde que Lula passou o cargo de presidente da República para Dilma Rousseff há nove meses, a nossa grande imprensa tenta jogar um contra o outro e procura detonar a imagem do seu governo, que chegou ao final dos oito anos com índices de aprovação acima de 80%.


Como até agora não conseguiram uma coisa nem outra, tentam apagar Lula do mapa. O melhor exemplo foi dado hoje pelo maior jornal do país, a "Folha de S. Paulo", que não encontrou espaço na sua edição de 74 páginas para publicar uma mísera linha sobre o importante título outorgado a Lula pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris.


Em compensação, encontrou espaço para publicar uma simpática foto de Marina Silva ao lado de Fernando Henrique Cardoso, em importante evento do instituto do mesmo nome, com este texto-legenda:
"AFAGOS - FHC e Marina em debate sobre Código Florestal no instituto do ex-presidente; o tucano creditou ao fascínio que Marina gera o fato de o auditório estar lotado".


Assim como decisões da Justiça, criterios editoriais não se discute, claro.
Enquanto isso, em Paris, segundo relato publicado no portal de "O Globo" pela correspondente Deborah Berlinck, às 16h37, ficamos sabendo que:


"O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido com festa no Instituto de Estudos Políticos de Paris - o Sciences- Po _, na França, para receber mais um título de doutor honoris causa, nesta terça-feira. Tratado como uma estrela desde sua entrada na instituição, ele foi cercado por estudantes e, aos gritos, foi saudado. Antes de chegar à sala de homenagem, em um corredor, Lula ouviu, dos franceses, a música de Geraldo Vandré, "para não dizer que eu não falei das flores.


"A sala do instituto onde ocorreu a cerimônia tinha capacidade para 500 pessoas, mas muitos estudantes ficaram do lado de fora. O diretor da universidade, Richard Descoings, abriu a cerimônia explicando que a escolha do ex-presidente tinha sido feita por unanimidade".


Em seu discurso de agradecimento, Lula disse:
"Embora eu tenha sido o único governante do Brasil que não tinha diploma universitário, já sou o presidente que mais fez universidades na história do Brasil, e isso possivelmente porque eu quisesse que parte dos filhos dos brasileiros tivesse a oportunidade que eu não tive".

Para certos brasileiros, certamente deve ser duro ouvir estas coisas. É melhor nem ficar sabendo

'Nosso trabalho é ganhar dinheiro com crise'

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/09/110927_operador_recessao_pai.shtml


Entrevista de um operador de mercados, Alessio Rastani, na BBC, está causando furor no mundo. O cidadão teve uma crise de sinceridade e disse que sonha com uma recessão para ganhar mais dinheiro.
“Não ligamos muito para como vão consertar a economia. Nosso trabalho é ganhar dinheiro com isso”.

“Os governos não controlam o mundo. O (banco) Goldman Sachs controla o mundo. O Goldman Sachs não liga para esse resgate, nem os grandes fundos.”



'Nosso trabalho é ganhar dinheiro com crise', diz operador de mercados



O mercado financeiro não liga para o novo plano de resgate preparado para tentar salvar a economia da zona do euro e se interessa apenas em faturar com uma eventual nova recessão, revelou um operador de mercado independente entrevistado pela BBC.

"Sonho com esse momento (de declínio econômico) há três anos. Vou confessar: sonho diariamente com uma nova recessão. Se você tem o plano certo, pode fazer muito dinheiro com isso", declarou Alessio Rastani, em entrevista na última segunda-feira.



Questionado a respeito de o que faria o mercado confiar nos planos orquestrados para salvar economias em perigo, como a da Grécia, Rastani disse que, como operador, não se importa.

"Não ligamos muito para como vão consertar a economia. Nosso trabalho é ganhar dinheiro com isso", afirmou.

"Os governos não controlam o mundo. O (banco) Goldman Sachs controla o mundo. O Goldman Sachs não liga para esse resgate, nem os grandes fundos."

A entrevista, ainda que revele apenas a opinião individual de um operador, mostra que nem sempre o funcionamento dos mercados financeiros está em sintonia com o crescimento econômico.

Segundo Rastani, os grandes fundos e investidores não acreditam nas novas propostas – as quais, segundo informações preliminares, preveem a injeção de recursos em um fundo europeu de resgate e um possível calote parcial da Grécia – e estão tirando seu dinheiro da economia do euro e investindo-o em ativos mais seguros, como dólar e títulos de Tesouro.

"Essa crise é como um câncer. Se esperarmos, vai ser tarde demais. O que digo para as pessoas é: preparem-se. Não pensem que o governo vai consertar. Quero ajudar as pessoas, elas precisam aprender a fazer dinheiro com isso. Primeiro, protegendo seus ativos. Em menos de 12 meses, ativos de milhões de pessoas vão desaparecer"

Alessio Rastani, operador independente do mercado financeiro, em entrevista à BBC

Na opinião do operador, "qualquer um pode fazer dinheiro" com a crise, agindo no mercado de hedge e investindo em títulos de Tesouro.

'Governados pelo medo'

"Estou confiante que esse plano não vai funcionar, independentemente de quanto dinheiro (os governos) puserem. O euro vai desabar", afirmou ele. "Os mercados estão sendo governados pelo medo."

A âncora da BBC Martine Croxall disse que todos no estúdio estavam surpresos com as declarações. "Agradecemos sua sinceridade, mas (a atitude dos mercados) não nos ajuda muito, não?"

Rastani respondeu: "Essa crise é como um câncer. Se esperarmos, vai ser tarde demais. O que digo para as pessoas é: preparem-se. Não pensem que o governo vai consertar. Quero ajudar as pessoas, elas precisam aprender a fazer dinheiro com isso. Primeiro, protegendo seus ativos. Em menos de 12 meses, ativos de milhões de pessoas vão desaparecer".

Escravocratas contra Lula

http://www.viomundo.com.br/humor/martin-granovsky-foi-preciso-um-argentino-defender-lula-em-paris.html




27 de setembro de 2011 às 16:55

Martin Granovsky: Foi preciso um argentino defender Lula em Paris

Por Martín Granovsky, no Página 12, sugerido pelo Igor Fellipe

Podem pronunciar “sians po”. É, mais ou menos, a fonética de ciências políticas. Basta dizer Sciences Po para aludir ao encaixe perfeito de duas estruturas, a Fundação Nacional de Ciências Políticas da França e o Instituto de Estudos Políticos de Paris.

Não é difícil pronunciar Sians Po. O difícil é entender, a esta altura do século 21, como as ideias escravocratas continuam permeando a gente das elites sul-americanas.

Hoje à tarde, Ruchard Descoings, diretor do Sciences Po, entregará pela primeira vez o doutorado Honoris Causa a um latino-americano: o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio “Lula” da Silva. Falará Descoings e falará Lula, claro.

Para bem explicar sua iniciativa, o diretor convocou uma reunião em seu escritório da rua Saint Guillaume, muito perto da igreja de Saint Germain des Pres, em um prédio de onde se pode ver as árvores com suas folhas amareladas. Enfiar-se na cozinha é sempre interessante. Se alguém passa por Paris para participar de duas atividades acadêmicas, uma sobre a situação política argentina e outra sobre as relações entre Argentina e Brasil, não fica mal entrar na cozinha do Sciences Po.

Pareceu o mesmo à historiadora Diana Quattrocchi Woisson, que dirige em Paris o Observatório sobre a Argentina Contemporânea, é diretora do Instituto das Américas e teve a ideia de organizar as duas atividades acadêmicas sobre Argentina e Brasil, das quais também participou o economista e historiador Mario Rapoport, um dos fundadores do Plano Fenix faz 10 anos.

Naturalmente, para escutar Descoings foram chamados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser amável e didático. O Sciences Po tem uma cátedra sobre o Mercosul, os estudantes brasileiros vem cada vez mais à França, Lula não saiu da elite tradicional do Brasil, mas chegou ao nível máximo de responsabilidade e aplicou planos de alta eficiência social.

Um dos colegas perguntou se era o caso de se premiar a quem se orgulhava de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e deu um olhar de assombrado. Quiçá sabia que esta declaração de Lula não consta em atas, embora seja certo que Lula não tem um título universitário. Também é certo que quando assumiu a presidência, em primeiro de janeiro de 2003, levantou o diploma que é dado aos presidentes do Brasil e disse: “Uma pena que minha mãe morreu. Ela sempre quis que eu tivesse um diploma e nunca imaginou que o primeiro seria de presidente da República”. E chorou.

“Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção?”, foi a pergunta seguinte.

O professor sorriu e disse: “Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o julgamento da História este assunto e outros muito importantes, como a eletrificação das favelas em todo o Brasil e as políticas sociais”. E acrescentou, citando o Le Monde: “Que país pode medir moralmente a outro, nos dias de hoje? Se não queremos falar sobre estes dias, recordemos como um alto funcionário de outro país renunciou por ter plagiado a tese de doutorado de um estudante”. Falava de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro da Defesa da Alemanha até que se soube do plágio.

Disse também: “Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente não damos lições de moral a outros países”.

Outro colega perguntou se era bom premiar a alguém que uma vez chamou de “irmão” a Muamar Khadafi.

Com as devidas desculpas, que foram expressas ao professor e aos colegas, a impaciência argentina me levou a perguntar onde Khadafi tinha comprado suas armas e qual país refinava seu petróleo, além de comprá-lo. O professor deve ter agradecido que a pergunta não citava, com nome e sobrenome, a França e a Itália.

Descoings aproveitou para destacar em Lula “o homem de ação que modificou o curso das coisas” e disse que a concepção da Sciences Po não é de um ser humano dividido entre “uns ou outros”, mas como “uns e outros”. Enfatizou muito o et, e em francês.

Diana Quattrocchi, como latino-americana que estudou e fez doutorado em Paris depois de sair de uma prisão da ditadura argentina graças à pressão da Anistia Internacional, disse que estava orgulhosa de que a Sciences Po dava um título Honoris Causa a um presidente da região e perguntou sobre os motivos geopolíticos.

“Todo o mundo se pergunta”, disse Descoings. “E temos de escutar a todos. O mundo nem sequer sabe se a Europa existirá no ano que vem”.

No Sciences Po, Descoings introduziu estímulos para que possam ingressar estudantes que, se supõe, tem desvantagem para conseguir aprovação no exame. O que se chama de discriminação positiva ou ação afirmativa e se parece, por exemplo, com a obrigação argentina de que um terço das candidaturas legislativas deve ser de mulheres.

Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa de Lula era parte da política de ação afirmativa do Sciences Po.

Descoings o observou com atenção antes de responder. “As elites não são apenas escolares ou sociais”, disse. “Os que avaliam quem são os melhores, também. Caso contrário, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro mecânico que chegou à presidência, mas pelo que entendi foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas”.

Como Cristina Fernández de Kirchner e Dilma Rousseff na Assembleia Geral das Nações Unidas, Lula vem insistindo que a reforma do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial está atrasada. Diz que estes organismos, assim como funcionam, “não servem para nada”. O grupo BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) ofereceu ajuda à Europa. A China tem os níveis de reservas mais altos do mundo. Em um artigo publicado no El Pais, de Madrid, os ex-primeiros ministros Felipe González e Gordon Brown pediram maior autonomia para o FMI. Querem que seja o auditor independente dos países do G-20, integrado pelos mais ricos e também, da América do Sul, pela Argentina e Brasil. Ou seja, querem o contrário do que pensam os BRICs.

Em meio a esta discussão Lula chegará à França. Convém que saiba que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. No Brasil, a Casa Grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terra e escravos. Assim, Lula, silêncio por favor. Os da Casa Grande estão irritados.

Pobreza no Brasil cai 24%

Correio Braziliense - 28/09/2011


O bom desempenho da economia e do mercado de trabalho arrancou 4,2 milhões de brasileiros da pobreza nos últimos nove anos. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado ontem mostrou que o total de empregados com rendimento médio per capita familiar de até meio salário mínimo caiu de 17 milhões para 12,8 milhões nas seis principais regiões metropolitanas do país desde 2002, uma redução de 24,8%.
O resultado só não foi melhor por causa da crise vivida pelo Brasil entre 2002 e 2003, quando parte da opinião pública desconfiava da capacidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conduzir o país. Com isso, a inflação disparou. Para reverter esse quadro e conquistar credibilidade, o governo do PT promoveu um forte arrocho na economia. O resultado foi uma breve recessão no primeiro semestre de 2003 — nesse período, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,1% ante o quarto
trimestre de 2002 — que acabou jogando 1,5 milhão de pessoas no grupo com rendimento menor que meio salário mínimo.
A partir de 2003, no entanto, houve uma sucessão de quedas no total de pessoas na pobreza. "As mudanças são atribuídas não apenas ao crescimento econômico do país, mas à qualidade que ele apresentou. O aumento da formalização no mercado de trabalho e do salário mínimo puxa a renda dos mais pobres", destacou André Calixtre, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea.
Realização
A melhoria na renda da população permitiu a realização de sonhos de pessoas como Nathália Lopes dos Santos, 21 anos. Há dois anos, ela foi contratada como operadora de caixa em um restaurante, onde hoje já ocupa o cargo de subgerente. A renda per capita da família, nesse período, praticamente triplicou. "Antes, éramos quatro pessoas com o salário da minha mãe, de R$ 800. Hoje, como um irmão também já não mora conosco, nossa renda chega a R$ 1,8 mil para três pessoas", disse. Com o dinheiro, veio também o conforto. "Neste ano, ajudei a minha mãe a comprar uma máquina de lavar. Também comprei um computador e pago a conexão com a internet", afirmou Nathália.
Com o jovem Alexandro Alves de Oliveira, 24 anos, a situação não foi diferente. Há um ano, ele deixou o ofício de auxiliar de construção civil para se tornar ajudante em um restaurante de frutos do mar. "Pude concretizar o projeto de morar só. Minha última aquisição foi uma moto ", relatou.
Calixtre destacou a mudança geográfica na distribuição do trabalho de baixa renda. Nos últimos nove anos, a maior redução nessa população ocorreu em Belo Horizonte. O número de empregados nessa situação caiu de 2 milhões para 1,2 milhão, uma diminuição de 40,5%.

Alckmin gasta 9 milhões pela fidelidade da PIG

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Alckmin: 9 milhões pela fidelidade da ‘Proba Imprensa Gloriosa”

E seu Barão assina os jornais e revistas para as Escolas Públicas

Do NaMariaNews


Interrompemos nossas saudáveis férias nas paradisíacas selvas de Bornéu para informar que a chuva é molhada, o sol é quente, a grama é verde e a Educação de São Paulo continua a mesma, embora sob completa nova direção.

O Barão de Taubaté, ou melhor, o Sr. José Bernardo Ortiz Monteiro é o presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) desde sua nomeação pelo Governador Geraldo Alckmin, em janeiro deste ano.

Pois não é que depois de ferrenha labuta nas negociações, Ortiz acatou ordem superior e assinou milhares de exemplares de jornais e revistas do PIG (Proba Imprensa Gloriosa) – para as melhores escolas públicas do mundo, cujos professores são também os mais bem remunerados do planeta? Sim. Exatamente como fizeram seus antecessores, o ex-governador José Serra e o finado Paulo Renato Costa Souza, ex-secretário de Educação de SP, o Barão de Taubaté fechou com a Folha de SP, Estadão, Veja, IstoÉ e Época. Tudo, como sempre, sem licitação.

Desnecessário dizer que, mais uma vez, a CartaCapital não aparece no rol dos favorecidos.

Eis os contratos, datas e seus valores, de acordo com o Diário Oficial:

27/julho/2011 – Época
- Contrato: 15/00628/11/04
- Empresa: Editora Globo S/A
- Objeto: Aquisição pela FDE de 5.200 (cinco mil e duzentas) assinaturas da “Revista Época” – 52 Edições, destinados às escolas da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo – Projeto Sala de Leitura.
- Prazo: 365 dias
- Valor: R$ 1.203.280,00
- Data de Assinatura: 26/07/2011
(*Primeiro comunicado no DO em 12/julho/2011)

29/julho/2011 – Isto É
- Contrato: 15/00627/11/04
- Empresa: Editora Brasil 21 LTDA
- Objeto: Aquisição pela FDE, de 5.200 (cinco mil duzentas) assinaturas da “Revista Isto É”, 52 Edições, destinados às escolas da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo – Projeto Sala de Leitura.
- Prazo: 365 dias
- Valor: 1.338.480,00
- Data de Assinatura: 25/07/2011.
(*Primeiro comunicado no DO em 12/julho/2011)

3/agosto/2011 – Veja
- Contrato: 15/00626/11/04
- Empresa: Editora Abril S/A
- Objeto: Aquisição pela FDE de 5.200 (cinco mil e duzentas) assinaturas da “Revista Veja”, 52 Edições, destinados às escolas da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo
- Projeto Sala de Leitura
- Prazo: 365 dias
- Valor: R$ 1.203.280,00
- Data de Assinatura: 01/08/2011.
(*Primeiro comunicado no DO em 12/julho/2011)

6/agosto/2011 – Folha
- Contrato: 15/00625/11/04
- Empresa: Empresa Folha da Manhã S.A.
- Objeto: Aquisição pela FDE de 5.200 (cinco mil e duzentas) assinaturas anuais do jornal “Folha de São Paulo”, destinados às escolas da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo – Projeto Sala de Leitura
- Prazo: 365 dias
- Valor: R$ 2.581.280,00
- Data de Assinatura: 01/08/2011.
(*Primeiro comunicado no DO em 23/julho/2011)

17/agosto/2011 – Estadão
- Contrato: 15/00624/11/04
- Empresa: S/A. O Estado de São Paulo
- Objeto: Aquisição pela FDE de 5.200 assinaturas anuais do jornal “O Estado de São Paulo”, destinados às escolas da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo – Projeto Salas de Leitura.
- Prazo: 365 dias
- Valor: R$ 2.748.616,00
- Data de Assinatura: 01-08-2011.
(*Primeiro comunicado no DO em 23/julho/2011)

Marcos Coimbra faz boa comparação de partidos, com base em suas Resoluções oficiais

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

POLÍTICA
Como falam os partidos

No 4º Congresso Nacional do PT, realizado no último fim de semana, o mais importante documento aprovado foi uma “Resolução Política”. Muita coisa foi significativa nos três dias que durou o evento (como a saudação entusiasmada que recebeu José Dirceu, em desagravo ao modo como foi tratado por certa imprensa), mas é ela que vai durar.

Para todos efeitos, é uma espécie de atualização do programa do partido, a mais recente desde o 3º Congresso Nacional, que aconteceu em 2007, após a reeleição de Lula. Nela, o partido toma posição em relação ao governo federal, fornece sua visão do cenário nacional e internacional, e estabelece uma agenda de curto prazo, seja para a atuação de seus parlamentares, seja para as próximas eleições municipais.

Pode-se gostar ou não do PT enquanto partido, mas de uma coisa quase ninguém duvida: está a anos-luz dos demais, em qualquer dimensão relevante de comparação objetiva. É, de longe, o maior e o mais organizado de todos os partidos que tivemos em nossa história.

Pode-se, também, concordar ou discordar do conteúdo da Resolução. Mas é um documento que não pode ser ignorado.

A começar, pelo simples fato de existir. Estamos exageradamente acostumados a que os partidos nada tenham a dizer institucionalmente, e a ouvi-los apenas através de suas lideranças. Sua manifestação formal e oficial é rara, o que é reflexo da dificuldade que têm para construir consensos e encontrar os sentimentos majoritários de seus integrantes.

Nos pequenos, o personalismo dos dirigentes é tão grande que decidem sozinhos e divulgam suas opiniões quando querem e da forma que lhes apraz. Alguns têm tanta consideração por seus correligionários que os informam de decisões partidárias através do Twitter.

Nos grandes, temos alguma vida partidária efetiva. Mas as dissensões inter-pessoais costumam ser tão intensas que apenas raramente é possível chegar a acordos que permitam elaborar ou rever programas e documentos semelhantes.

O PSDB, por exemplo, desde sua fundação em 1988, só sentiu que precisava preparar um novo documento programático em 2007. Ainda assim, o apresentou como um simples “manifesto”. De lá, para cá, não falou mais como partido. Especialmente depois de quando Fernando Henrique passou a publicar com regularidade seus pontos de vista pela imprensa.

Seus artigos, sempre assinados, se tornaram o que de mais perto há no PSDB de documentos programáticos. (O que não deixa de ser coerente: partidos de quadros, documentos individuais, elaborados por “notáveis”; partidos de massa, documentos coletivos, fruto da negociação entre correntes.)

Deixando, por ora, a discussão do conteúdo da Resolução petista, podemos comparar sua linguagem à do texto tucano de 2007. É um modo de ver as diferenças que existem entre os partidos.

Algumas palavras aparecem em proporção totalmente diversa nos dois documentos. “Corrupção”, assunto relevante para o PSDB em 2007 (dois anos depois do mensalão), surge em seu documento 4 vezes. No do PT, escrito agora, 12. “Comunicação”, algo pouco importante para os tucanos, lá está apenas uma vez. Como é preocupação atual do PT, aparece 12 vezes no seu.

“Eficiência” e “gestão” (com suas combinações) são marca tucana: 14 vezes no seu manifesto. Nem tão relevantes para o PT: 4, na Resolução.

Totalmente diferentes as interlocuções: “mulher”, 13 (PT) a 1 (PSDB); “movimento (social, sindical, etc.)” 19 a 2; “negro” 4 a 1; “trabalhador” 13 a 9; “sindicato” 4 a 1. Ambos citam “jovens”(ou “juventude”) em quantidade parecida: o PT por 11 vezes, o PSDB, 9. Nos “empresários”, empate: 1 a 1.

Diferente também a geografia: no documento petista, há 12 menções à America Latina (ou do Sul), enquanto no tucano apenas 2; os Estados Unidos são citados 7 vezes pelo PT (de forma negativa em quase todas) e não aparecem no documento do PSDB. Já a China e a Índia estão nos dois em igual medida: juntas, são mencionadas 6 vezes pelos tucanos e 5 pelos petistas.

Nas suas 11 mil palavras, a Resolução do PT cita Dilma (pelo nome ou pelo cargo) 41 vezes. Lula aparece 33. “Neoliberal” (ou “neoliberalismo”), 26 vezes (todas, é natural, de forma crítica); “socialismo”, 5; “esquerda” (ou “centro-esquerda”), 15. Nenhuma está no texto tucano.

Há quem ache que a leitura dos programas partidários é irrelevante. Não é. Pode ser elucidativa.



Marcos Coimbra é presidente do Instituto de pesquisas Vox Populi

Carta às esquerdas, por Boaventura de Souza Santos

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação de algumas ideias. A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.

Boaventura de Sousa Santos *


Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas mas o seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação. Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os seus fins. O capitalismo não é a única fonte de dominação mas é uma fonte importante.
Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais? Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas? O Estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para combater as relações de dominação?
As respostas opostas as estas perguntas estiveram na origem de violentas clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda; mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo, do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda do Muro de Berlim. Os últimos trinta anos foram, por um lado, uma gestão de ruínas e de inércias e, por outro, a emergência de novas lutas contra a dominação, com outros atores e linguagens que as esquerdas não puderam entender.
Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias.
Primeiro, o mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo; não há internacionalismo sem interculturalismo.
Segundo, o capitalismo concebe a democracia como um instrumento de acumulação; se for preciso, ele a reduz à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.
Terceiro, o capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações públicas).
Quarto, a experiência do mundo mostra que há imensas realidades não capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de serem valorizadas como o futuro dentro do presente.
Quinto, o século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento económico não é infinito.
Sexto, a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns da humanidade (como a água e o ar).
Sétimo, o curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos; este é um patrimônio das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar.
Oitavo, o capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer, do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas.
Nono, o Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele, muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.
Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a barbárie que se aproxima.


* Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

Decisões do PT repercutem no Congresso Nacional

O SR. RICARDO BERZOINI (PT-SP. Como Líder. Sem revisão do orador.) -
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, é uma honra vir a esta tribuna hoje anunciar que o Partido dos Trabalhadores,nesse fim de semana, sexta-feira, sábado e domingo, realizou uma sessão complementar de seu 4º Congresso, na qual tomou decisões importantes sobre a conjuntura nacional e fez uma avaliação profunda da situação econômica e política não apenas do País, mas também no plano internacional.
Coube a mim, por designação do próprio 4º Congresso, na sua sessão de fevereiro de 2010, coordenar uma comissão, que trabalhou todo este tempo, desde 2010 até agora, para produzir uma proposta de reforma do Estatuto do PT. O estatuto que está em vigor até hoje tem 10 anos de vida; não envelheceu; é um bom estatuto.

Mas o PT, com a sua inquietude tradicional, buscou analisar os problemas que vivemos nesses 10 anos, principalmente a necessidade de buscar novos desafios para o partido.
Desafios que podem ser definidos a partir de uma lógica fundamental. O PT cada vez mais tem representação popular ampla, tem milhões de filiados, mas quer que esses filiados sejam tratados com instrumentos de comunicação, disponibilizar formação política, disponibilizar participação, induzir a participação permanente para que seja um partido não apenas com filiados, mas com filiados com níveis distintos de militância, de participação, mas, se possível, que todos participem da vida partidária.
E hoje, como sabemos, a vida partidária tem instrumentos novos que asseguram às pessoas participação, mesmo quando têm dificuldades de frequentar reuniões do partido. Por exemplo, a Internet, com seus instrumentos de interatividade, e as redes sociais permitem ao cidadão filiado ao partido político interagir com seus Deputados, com seus dirigentes, formar grupos de discussão, formar núcleos virtuais.
E essa foi uma das decisões do IV Congresso Seção Estatutária do Partido dos Trabalhadores, reconhecer no seu estatuto também a instância de base do partido, a criaçãode grupos pela Internet devidamente inscritos junto ao partido e que tenha militantes em várias localizações geográficas. Até hoje os partidos se organizaram por região, por cidade, por Estado, agora temos um outro instrumento,a participação dos militantes pela Internet.

Outra questão importante, Sr. Presidente, e essa, sim, uma demonstração clara do vigor e da força da militância do PT, foi a aprovação de percentuais mínimos para vários contingentes sociais brasileiros. Por exemplo, as mulheres já tinham conquistado, com muita luta e convencimento político, a cota mínima de 30% de participação nas direções. No entanto, numa executiva, por exemplo, como a do PT, de 21 pessoas, é muito comum ver observados os 30%, mas na Secretaria-Geral, na Presidência, na Tesouraria, na Secretaria de Informação, na Secretaria de Organização, todos são homens.
Então, aprovamos agora uma questão fundamental que é garantir o percentual, que passou para 50%. Ou seja, a paridade que defendemos na reforma política, o PT vai aplicar a partir da próxima eleição, também essa paridade se aplica aos cargos com função. Portanto, se entre 15 cargos, 18 cargos, metade for com função, metade desses cargos terá de ser ocupado por mulheres ou alternativamente por homens e mulheres, uma vez que a cota não épara mulheres, mas de paridade de gênero.
Outra questão importante foi a aprovação de um percentual mínimo nas direções, de 20%, para filiados com menos de 30 anos, até 29 anos. Portanto, está garantida a participação de jovens, para que o partido não envelheça, para que o partido tenha pessoas com mais idade e com menos idade na sua direção.
Também foi importante uma referência de 20%, calibrada pela participação demográfica em cada Estado, chamada cota étnico-racial, para negros e índios, para que possamos ter presente também a diversidade racial nas direções do PT.

O PT já é um partido que tem muitas companheiras mulheres militando, muitos negros, muitos jovens, mas queremos que se torne uma regra real de participação.
Além disso, Sr. Presidente, aprovamos, coerentemente com o que defendemos na reforma política, a lista preordenada, que vai assegurar a todos os militantes do PT, previamente, a visibilidade, numa chapa para eleição partidária, quem são aqueles que têm mais chance de entrar por estarem nos primeiros lugares da lista, mais chances de entrar depois de composta a direção pelo voto direto dos filiados.
Foi uma decisão fundamental porque acaba com qualquer margem para procedimentos que iludam o eleitor, escondam do eleitor qual é a real composição daquela chapa que está defendendo posições dentro do partido.
E uma outra questão também importante que aprovamos éque, a partir de agora, para exercer seu direito de voto dentro do PT, o filiado vai ter de participar de pelo menos uma atividade por ano. Ou seja, evitar que haja aquela filiação de gaveta, aquela filiação escondida, que não tem relação com a vida real do partido, para termos, de fato, a busca permanente da participação. Os filiados deverão ter uma vida partidária, mínima que seja, para poderem ter direito pleno de voto e de participação.
São mudanças importantes de um partido que chega aos seus 31 anos e governando o Brasil pela terceira vez, governando cinco Estados, participando de muitos Governos Estaduais encabeçados por outros partidos, 550 Prefeituras, milhares de Vereadores, a maior bancada na Câmara, a segunda maior no Senado.
Esse partido não está parado, não está dormindo nos louros do momento de afirmação política. O PT está buscando se renovar, construir cada vez mais participação, democracia e transparência perante a sociedade, principalmente os seus filiados, uma vez que são eles que dão a força política que o PT conquistou na sociedade, e também os seus eleitores.

Por fim, quero dizer que tivemos neste Congresso 1.350 delegados, mais de 600 observadores, mais de 100 convidados internacionais, tivemos o Partido Nacionalista Peruano falando na abertura, a Presidenta Dilma Roussefffazendo um belo discurso na abertura, o ex-Presidente Lula também falando na abertura, ou seja, um momento de afirmação política que resultou principalmente no fortalecimento da militância do PT.
O PT mostrou mais uma vez que não é um partido de cúpula, não é um partido que se organiza a partir de meia dúzia de Deputados e de meia dúzia de Senadores. É um partido que tem base.
Eu quero encerrar homenageando todas as mulheres petistas que, neste Congresso, deram um show de criatividade, de manifestação, convenceram aqueles que eram renitentes. A própria Comissão que eu presidi defendia a paridade sim, mas com uma regra de transição de 40% na próxima eleição, para chegar aos 50%.
Pelo calor do plenário, pelo show de simpatia e de afirmação política que as mulheres deram, tivemos a votação praticamente por unanimidade para ter a paridade já. A partir da próxima eleição, quando terminar a eleição e apurar-se os votos, 50% pelo menos das vagas do Diretório Nacional da Executiva e dos cargos com função serão de mulheres, exemplo que damos para o conjunto da população brasileira e para esta Casa, que estádiscutindo a reforma política.
Por que não avançarmos mais do que o próprio Relator Henrique Fontana propôs, e fez um esforço diante da composição desta Casa, onde as mulheres são menos de 10%? S.Exa. fez um esforço ao colocar um critério no seu relatório.

Mas por que não fazemos também aqui na Casa um esforço político para ter a paridade entre homens e mulheres, já a partir da próxima eleição, por um acordo político de todos os partidos, Situação, Oposição? Vamos reconhecer: os homens levam vantagem nas eleições a partir jáda cultura política tradicional brasileira e sem a paridade dificilmente chegaremos a uma participação justa entre homens e mulheres no Parlamento nacional.
Por isso, Sra. Presidente, quando eu vejo a senhora presidindo a sessão, primeira mulher componente da Mesa, eu tenho certeza de que seria muito bom que na próxima Mesa desta Casa 50% fossem de mulheres e que pudéssemos ter, de fato, uma participação maior para que o povo brasileiro reconheça que a sociedade brasileira se faz com homens e mulheres; com mulheres e homens na luta por uma democracia plena e efetiva.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Rose de Freitas) - V.Exa. sabe, Deputado Berzoini, que toca o coração das mulheres que estão nesta Casa, com mandato, sem mandato, taquígrafas, servidoras, quem nos ouve, é uma luta de muitos anos.
Eu já fui Constituinte nesta Casa com apenas oito mulheres, já fui a segunda mulher no meu Estado, na Assembleia Legislativa. Essa luta tem uma grande história que as mulheres carregam, e os homem também, porque temos companheiros que são afirmativos nessa luta, como V.Exa. acabou de ser.
Eu já parabenizei o partido de V.Exa. Divergências à parte que possamos ter, mas nessa questão da mulher, na questão da juventude, da cota racial, V.Exas. inauguraram um novo tempo na vida político-partidária. Eu sótenho de parabenizar e dizer que procurarei levar esse exemplo para dentro do PMDB — e espero que todos os partidos o façam.
Mais da metade da sociedade é composta de mulheres, e nós não queremos nem mais, nem menos, queremos a igualdade: ombro a ombro, lado a lado. Só assim este Brasil vai avançar com mais democracia, com mais respeito e mais igualdade.



Ricardo Berzoini

Cuba não reconhece o Conselho Nacional de Transição na Líbia

por MINREX

O Ministério das Relações Exteriores efectuou a retirada do seu pessoal diplomático na Líbia, onde a intervenção estrangeira e a agressão militar da NATO agudizaram o conflito e impediram o povo líbio de avançar para uma solução negociada e pacífica, no pleno exercício da sua autodeterminação.

A República de Cuba não reconhece o Conselho Nacional de Transição nem nenhuma autoridade provisória e só dará o seu reconhecimento a um governo que se constitua nesse país de maneira legítima e sem intervenção estrangeira, mediante a vontade livre, soberana e único do povo irmão líbio.

O embaixador Víctor Ramírez Peña e o primeiro secretário Armando Pérez Suárez, acreditados em Tripoli, mantiveram uma conduta impecável, estritamente apegada ao seu estatuto diplomático, correram riscos e acompanharam o povo líbio nesta trágica situação. Foram testemunhas directas dos bombardeamentos da NATO sobre objectivos civis e da morte de pessoas inocentes.

Com o grosseiro pretexto da protecção de civis, a NATO assassinou milhares deles, desconheceu as iniciativas construtivas da União Africana e de outros países e, inclusive, violou as questionáveis resoluções impostas pelo Conselho de Segurança, em particular com o ataque a objectivos civis, o financiamento e fornecimento de armamento a uma parte, bem como a instalação de pessoal operacional e diplomático no terreno.

As Nações Unidas ignoraram o clamor da opinião pública internacional, em defesa da paz, e tornaram-se cúmplices de uma guerra de conquista. Os factos confirmam as advertências prévias do comandante em chefe Fidel Castro Ruz e as oportunas denúncias de Cuba na ONU. Agora sabe-se melhor para que serve a chamada "responsabilidade de proteger" nas mãos dos poderosos.

Cuba proclama que nada pode justificar o assassinato de pessoas inocentes.

O Ministério das Relações Exteriores reclama a cessação imediata dos bombardeamentos da NATO que continuam a ceifar vidas e reitera a urgência de que se permita ao povo líbio encontrar uma solução pacífica e negociada, sem intervenção estrangeira, no exercício do seu direito inalienável à independência e à autodeterminação, à soberania sobre os seus recursos naturais e à integridade territorial dessa nação irmã.

Cuba denuncia que a conduta da NATO destina-se a criar condições semelhantes para uma intervenção da Síria e reclama o fim da ingerência estrangeira nesse país árabe. Apela à comunidade internacional a impedir uma nova guerra, insta as Nações Unidas a cumprirem seu dever de salvaguardar a paz e proteger o direito do povo sírio à plena independência e autodeterminação.

Havana, 3 de Setembro de 2011.
O original encontra-se em www.cubadebate.cu/...

Esta declaração encontra-se em http://resistir.info/ .

Um sopro de vida orgânica no PT

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

*** O texto abaixo, de Maria Inez Nassif é o primeiro que analisa o 4º Congresso do PT, que fez uma verdadeira Revolução em sua organização interna para o próximo período. Vale a pena acompanhar as análises e conhecer as mudanças em www.reformaestaturiapt.org.br ou pelo site www.pt.org.br


"O documento aprovado no Congresso do PT é uma tentativa de resgatar a organicidade política do partido que, depois de oito anos de governo Lula (e oito meses de Dilma) acabou se conformando como uma mera unidade pró-governo. É uma tentativa de sair da arena da luta meramente institucional com os partidos aliados e ganhar a opinião pública para suas bandeiras.
Maria Inês Nassif

Não se recomenda reduzir o Congresso do PT, realizado no final de semana, a um mero jogo de cena. A ausência de debates acalorados ou a não explicitação de grandes divergências internas dizem mais do que isso. Ao longo de oito anos de governo, e no início de um terceiro mandato na Presidência, era inevitável que mudanças se produzissem num partido que sempre funcionou como uma frente de tendências de esquerda, setores sindicais e grupos ligados à Igreja Progressista.

O PT passa por um processo de mudança que se iniciou em 1998, após a terceira derrota de Luiz Inácio Lula da Silva na disputa pela Presidência. Ao longo do tempo, sofreu defecções próprias de um partido que se consolidou na oposição e como partido de esquerda que, uma vez no poder, não teria condições de governabilidade se não optasse por uma política de alianças mais ampla e maleável.

Muita água rolou debaixo da ponte desde a formação do PT, em 1980. Sofreu rachas que resultaram no PSTU e no PSol; não apenas perdeu setores ligados à Teologia da Libertação, como os que lá permaneceram vivem o ostracismo a eles imposto nos dois últimos papados (de João Paulo II e de Bento XVI); amargou as crises do chamado Mensalão e dos "Aloprados", que resultaram não apenas em desgaste popular, mas em perdas de quadros importantes para a dinâmica interna, sangria iniciada na formação do Ministério petista; foi de alguma forma redimido pelo sucesso dos governos Lula, mas para isso teve que pegar carona na popularidade de um líder carismático que detinha o poder do presidencialismo.

O resultado foi um esvaziamento de quadros dirigentes, uma crise interna que se estendeu no tempo, inclusive pela falta de mediadores com o peso de Lula, e uma perda de peso relativo em relação aos demais partidos da base aliada, embora permaneça com uma grande bancada no Congresso.

Essa conjunção de desgraças poderia ter reduzido o partido a pó, à semelhança do que acontece com o desidratado DEM, ex-PFL. Não foi o que aconteceu. Primeiro, porque continua partido do governo - e num sistema presidencialista, isto não é pouco, nem para o PT (embora, por justiça, é preciso lembrar que o partido, desde a sua criação, teve um crescimento eleitoral contínuo, mesmo na oposição, e apenas sofreu uma queda eleitoral em 2006, quando era governo e apesar da reeleição de Lula). Em segundo lugar, porque a sangria de quadros não alterou a realidade de que o partido ainda é o único que dispõe de quadros, não apenas os nascidos de sua organização mas também os originários da esquerda pré-redemocratização.

A vantagem disso é que, mesmo com a proliferação de grupos articulados em torno de líderes paroquiais (isso também existe no PT), prevalece, inclusive numericamente, a ideia de que a organicidade partidária é a grande vantagem de que desfruta em relação aos partidos da base aliada, nas contendas com o governo.

As dificuldades que o governo Lula e o PT enfrentaram a partir de 2005 também colocaram como questão eleitoral para o partido a atração dos movimentos sociais, afastados nos primeiros anos de governo petista, e a inclusão dos setores que ascenderam à sociedade de consumo nesse período graças às políticas de inclusão do governo petista. Se o partido não capitalizar esses setores agora, não conseguirá dividir esse legado com Lula. Ou o perderá para o PSDB, que investe na "nova classe média" partindo do conceito clássico de que esse setor social tem grande tendência ao conservadorismo. O PSDB quer conquistar os setores que emergiram no governo petista pela direita; o PT tenta fidelizá-lo com um discurso mais progressista, para não perder o apoio das classes mais baixas que, se não chegaram às classes médias, ascenderam à sociedade de consumo nos governos petistas.

A defecção de grupos de esquerda e a divisão das responsabilidades de governo com tendências que se desentendiam internamente permitiram o milagre da unidade, num momento de crise em que se apostaria na fatalidade da desunião. A saída de Lula do governo e uma aposta na incapacidade da presidenta Dilma Rousseff nas questões de natureza política reiteravam essa previsão. Não foi tão ruim assim. E, pensando bem, pode ser uma grande chance para o PT encontrar o equilíbrio entre os interesses do partido e as exigências do governo.

O documento do PT, aprovado no encontro, é uma tentativa de resgatar a organicidade política do partido que, depois de oito anos de governo Lula (mais oito meses de Dilma) acabou se conformando como uma mera unidade pró-governo. É uma tentativa de ter suas próprias bandeiras, no suposto de que o partido deve assumir o papel de abrir espaço, na sociedade, para medidas de caráter mais progressista. Entenda-se a manifestação política do Congresso do PT como uma tentativa de sair da arena da luta meramente institucional com os partidos aliados e ganhar a opinião pública para suas bandeiras. Por enquanto, o único mérito é tentar retomar o seu papel de intelectual orgânico. Será um grande mérito, contudo, se conseguir levar essa missão a bom termo".



(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.

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