Estado, governo, partidos, democracia

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Publicado no Blog do Emir

O Estado brasileiro é mais forte porque mais democrático. A campanha eleitoral da oposição - tendo sua comissão de frente nas empresas privadas da mídia - concentra seu foco de supostas denúncias em um tema central: o governo confundiria o Estado com o governo, apropriando-se do Estado em função dos partidos que o apóiam. O jornal da família Frias chegou a colocar como manchete na sua primeira página que “O governo se reserva tal porcentagem do pré-sal”, como se se tratasse de uma apropriação por parte de governo de receitas de um projeto de enorme transcendência, que mobiliza grande quantidade de recursos, para seu proveito, em lugar de fazê-lo para o Estado brasileiro. Confusão faz essa imprensa despreparada teoricamente e mesquinha politicamente, ao não se dar conta de como os destinos do Estado brasileiro estão em jogo na repartição dos recursos do pré-sal, não se tratando apenas de um problema de um governo de turno. Mas quando se trata de manter de pé campanha sistemática de acusações a um governo que, apesar disso ou talvez até mesmo também por isso, goza de mais de 80% de apoio da população, vale de tudo, pelo próprio desespero de não ver refletir nas pesquisas de opinião, o tempo, os espaços e o papel gasto na até aqui inglória luta contra o governo.Para começar: o Estado brasileiro, no governo Lula, é muito mais democrático do que antes, em qualquer outro governo. Em primeiro lugar, porque atende as reivindicações de um numero incomparavelmente maior de pessoas do que qualquer outro governo. Atende seus direitos a emprego formal, a acesso a bens fundamentais, a escola, a habitação, a saneamento básico, a créditos, a energia elétrica, entre outros direitos elementares, mas que foram sempre negados à maioria da população.Como conseqüência, o Estado integra a setores majoritários do povo, que nunca antes tinham se sentido participantes do Estado, do que é expressão o fato de mais de 80% da população apoiar o governo, não ocasionalmente, no momento de um plano econômico qualquer – como em momentos do Plano Cruzado do governo Sarney ou do Plano Real do governo FHC – mas estavelmente, no sétimo ano do governo, quando FHC tinha apenas 18% de apoio e Sarney algo similar.O Estado dispõe de mais pessoal e mais qualificado, melhor remunerado, depois de ter passado pela sua demonização, pela desqualificação do servidor público e diminuição pelas políticas de Estado mínimo do governo da tucanalhada-demoníaca.As empresas estatais são mais fortes e mais eficientes hoje. Tome-se o exemplo da Petrobrás no governo atual, em comparação com ao que tinha sido reduzida – “Petrobrax” – no governo FHC. Os levantamentos do IPEA revelam como o serviço publico é mais eficiente que as empresas privadas, como mostra da melhoria do Estado no governo atual.A diminuição significativa do superávit fiscal, o freio nos processos de privatização – que previam a privatização da Petrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, da Eletrobras, nos acordos assinados com o FMI na última das três crises com que o governo FHC vitimizou o Brasil fortaleceram o Estado. Ao contrário dos governos tucanos, como o de Serra, que seguiu adiante as privatizações e, não fosse o Banco do Brasil ter comprado a Nossa Caixa, a teria vendido ao capital privado, como os tucanos tinham feito com o Banespa vendido a um banco estrangeiro, o Santander.O Estado brasileiro é muito mais forte, porque muito mais respeitado no exterior, tanto na América Latina, como no conjunto do mundo, como se vê pelo prestígio de Lula, em comparação com a penosa imagem projetada por FHC e seus tristes ministros de Relações Exteriores.O Estado é mais forte porque recuperou sua capacidade de indução do crescimento econômico, como se viu muito claramente na capacidade do governo e dos bancos públicos de promover a recuperação econômica do país na atual crise, muito maior do que qualquer uma que o governo FHC tenha vivido e, no entanto, o Brasil sai dela mais forte, ao contrário das anteriores, em que – como no caso da crise de 1999 – o país saiu enfraquecido – com as taxas de juros próximas de 50%, com o desemprego em níveis altíssimos, com um descontrole inflacionário, com um aumento exponencial da divida pública, com uma recessão de que somente o governo Lula pôde fazer com que saíssemos da crise.O Estado é mais forte justamente porque o governo não confundiu governo e Estado. O governo é um instrumento de fortalecimento do Estado, mediante políticas de interesse nacional – como as políticas sociais, educativas, culturais, econômicas, a política externa independente, entre tantas outras – e não para atender interesses privados – como as escandalosas privatizações de FHC, que dilapidaram o patrimônio público ou como a privataria educacional que promoveu as faculdades e universidades privadas em detrimento da educação publica, universal e gratuita.O Estado é mais forte, porque arrecada mais e melhor, canalizando recursos para o crescimento econômico e as políticas sociais. Porque diminuiu as taxas de juros, diminuindo a remuneração ao capital especulativo e a transferência de renda ao capital financeiro.Assim, o Estado brasileiro é mais forte, não porque menos democrático, mas porque muito mais democrático, mais integrador, mais provedor de direitos, mais reconhecido no exterior e dentro do Brasil.O Estado governa com os partidos que apóiam o governo Lula, um governo submetido pelos dois maiores plebiscitos públicos – as eleições de 2002 e 2006 -, em que, mesmo tendo a ditadura das empresas privadas da mídia contra, contou com o imenso apoio popular, que só cresceu desde então. Governa, portanto, com a delegação da grande maioria do povo. A oposição queria que ele governasse, como no governo FHC, com representantes diretos do grande capital, dos bancos, das corporações privadas, da mídia oligárquica, do capital estrangeiro.Os governos estaduais dos outros partidos – como o de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul – foram sistematicamente sabotados pelo governo FHC, ao contrário do governo Lula, que compartilha os recursos federais com governos da oposição, como os governos tucanos de São Paulo e de Minas Gerais, com governadores pré-candidatos à presidência pela oposição ao governo.O Estado é mais forte no Brasil no governo Lula, a democracia é mais forte, porque o governo as promove como seus objetivos centrais. Passado o circo midiático, fica claro que foram os tucanalhas-demoníacos, que debilitaram o papel de controle tributário, favorecendo a sonegação fiscal como nunca no Brasil.Um Estado forte é um Estado democrático, reconhecido e apoiado pela grande maioria da população. É um Estado que implementa políticas de caráter nacional, de interesse público, promovendo a prioridade das questões sociais e não a ditadura econômico-financeira de Malan-FHC-Serra.O Brasil precisa ser mais democrático e não menos, como quer a oposição, adepta do Estado mínimo e dos cortes dos direitos sociais. O Brasil precisa reformar profundamente o Estado, não como quer a oposição, para deixar mais espaços para o mercado, mas para torná-lo efetivamente um Estado de todos e para todos.

O arsenal udenista está de volta, o que poderá detê-lo?

Vale a pena conferir

A moralidade de quase todos os grandes órgãos da imprensa brasileira está empenhada em corroer a candidatura Dilma Rousseff, custe o que custar. A observação de Gramsci sobre a "imprensa que adquire funções de partido político" se aplica como uma luva ao jornalismo praticado hoje no país. Carlos Lacerda (foto), caracterizado como "o Corvo" nas charges publicadas pelo jornal getulista Última Hora, manejava com maestria o ferramental de fraudes & ofensas, que hoje encontra aprendizes excitados nas redações.

O artigo é de Saul Leblon.

O método da calúnia é tão antigo no arsenal político da direita quanto o seuobjetivo de alcançar o poder a qualquer custo, seja pelo voto, o impeachment, o golpe, a fraude ou uma mistura das quatro coisassimultaneamente, como fez a UDN nas eleições de 1955, na primeira chancereal de chegar ao poder pelo voto, depois da tentativa de golpe abortadopelo suicídio de Vargas.Não deu certo. Os udenistas Juarez Távora e Milton Campos tiveram 30% dosvotos contra 36% dados a Juscelino. A vitória apertada, mas indiscutível da chapa que tinha como vice João Goulart, herdeiro político de Vargas, não desanimou os udenistas. Derrotados nas urnas em outubro de 1955, desencadearam uma campanha agressiva para impedir a posse de Kubitschek, marcada para janeiro do ano seguinte. Na linha de frente do golpismo estava o jornal *O Estado de SãoPaulo* - alter-ego da UDN paulista. O mesmo que hoje lidera a pressão pela derrubada de Sarney em nome da "moralização" do Congresso e da faxina éticana política nacional. Não é preciso ser simpatizante da oligarquia maranhense para suspeitar queexiste algo mais do que mau jornalismo no bombardeio que atribui a Sarneytodas as malfeitorias praticadas no Senado, desde a sua criação em 1824, naprimeira Constituição do Império. O que está por trás é a volta do arsenal"democrático" udenista em pleno aquecimento para 2010, quando o PMDB terápeso decisivo na sucessão de Lula, que cultiva o apoio da legenda num acordode reciprocidade com Sarney. A ressalva é tão óbvia que chega a ser admitida nas entrelinhas de editorialistas espertos, funcionando mais como salvaguarda cínica do texto,do que uma crítica efetiva ao jornalismo praticado em nome da moralidade.A moralidade de quase todos os grandes órgãos da imprensa brasileira estáempenhada em corroer a candidatura Dilma Rousseff, custe o que custar. Aobservação de Gramsci sobre a "imprensa que adquire funções de partidopolítico" se aplica como uma luva ao jornalismo praticado hoje no país.Cada flanco que se abre nas fileiras do governo aciona pautas especiais;mini-editorias específicas; forças-tarefas montadas a toque de caixa."Analistas" e acadêmicos são requisitados para teorizar sobre "a decadência irreversível do petismo", ao mesmo tempo em que petistas hesitantes, eex-petistas recorrentes, endossam a dissolução da pureza vermelhacontaminada pelos vícios do poder. Desprovida de partidos de massa, a direita sempre teve nas campanhasmidiáticas um valioso instrumento de intervenção na ordem institucional.Se desta vez a mutação flagrada por Gramasci ganha acentuação inédita é porque os resultados acumulados pelos dois mandatos de Lula deixaram umminúsculo campo programático para a coalizão demotucana se movimentar em2010. O braço midiático deve compensar com denúncias a fragilidade propositiva.
Malgrado as limitações da aliança que o sustenta, Lula superou a pior crise do capitalismo desde 1930, acentuando as linhas de vantagem do seu governo em relação à estratégia conservadora abraçada pelo PSDB e predominantementeapoiada pela mídia. A saber: o desastroso recuo do Estado em todas asfrentes do desenvolvimento; o alinhamento carnal com os EUA na políticaexterna e comercial; a terceirização dos grandes desafios sociais à"eficiência dos mercados auto-regulados".
Hoje esse cardápio se traduz na tentativa de desconstrução caluniosa da candidatura Dilma Rousseff; nas denúncias contra a Petrobras e na torcida mal-disfarçada com o êxito do país no pré-sal.Tivesse o Brasil persistido nessa rota, seria hoje uma terra arrasada pordesemprego e quebradeira, a exemplo do que sucede no Leste europeu - última fronteira de expansão do neoliberalismo e seu obituário mais dramático.Ocultar esse flanco substituindo o principal pelo secundário, portanto, sobrepondo à transparência da crise o que o monopólio midiático pauta comorelevante, é o recurso precioso de Serra para contrabalançar sua opacidade programática em 2010. Trata-se de uma das especialidades legadas pelo udenismo à política nacional. Carlos Lacerda, caracterizado como "o Corvo" nas chargespublicadas pelo jornal getulista Última Hora, manejava com maestria o ferramental de fraudes & ofensas, que hoje encontra aprendizes excitados nas redações.Exemplos: dia 22 de agosto o comentarista político Fernando Rodrigues,classificou o senador Mercadante de "vassalo" do Planalto, com chamada naprimeira página da Folha; antes dele, Danuza Leão comparou a ministra Dilma Rousseff , na mesma Folha, a um misto de pai autoritário e diretora"carrasca". Analista das Organizações Globo, o que não significa apenas uma inserção profissional, Lucia Hippolito espetou no título de um comentário sobre o PT (Globo online) o vocábulo-síntese de sua filiação carnal aoudenismo: "a pelegada".
A fome dos petizes lacerdistas encontra fontes obsequiosas nas fileiras oposicionistas.Olhos, ouvidos e bocas de Serra na capital federal, ao lado de Virgílio,Agripino, Sergio Guerra e Jereissati, o senador pernambucano JarbasVasconcelos (PMDB-PE) definiu o PT, em recente entrevista, como uma sublegenda do "lulismo". Na boa tradição udenista equiparou o "lulismo", portanto o Presidente da República, aos "caudilhismos latinoamericanos, aexemplo do peronismo argentino". O conservadorismo do senador evoca um tema recorrente no cardápio lacerdista, que inspirou violenta campanha contra Vargas nos anos 50, fartamente difundida pela rádio Globo, dirigida pelojovem udenista, Roberto Marinho.Vale a pena rememorar esse "case" do modo udenista de abduzir a realidade ederivar daí vale-tudo de aniquilação dos adversários.Em abril de 1954, o governo Vargas sangrava. Uma ciranda de ataques descomprometidos de qualquer outra lógica que não a derrubada de um projeto de desenvolvimento nacionalista fustigava o Presidente que criara a Petrobras, o BNDES e aplicava uma política de fortalecimento do mercado interno com forte incremento do salário mínimo.
O clima pesado de acusações e ofensas pessoais atingia Getúlio e sua família de forma indiscriminada. Lutero, irmão do Presidente, era tratado nas manchetes como "bastardo" e "ladrão". O ministro do Trabalho, João Goulart, era reduzido a "personagem de boate". Faltava, porém, um ponto de coagulação para transformar o tiroteio desordenado em míssil capaz de abrir um rombo na legalidade institucional. Em meio à radicalização, em março de 54 surge a denúncia de que "os caudilhos" Vargas e Perón planejavam um suposto "Pacto ABC" (Argentina–Brasil –Chile), cuja meta era "a integração sul-americana num arquipélagode repúblicas sindicais contra os EUA". Carlos Lacerda, na *Tribuna da Imprensa* e na rádio Globo, e a Banda de Música da UDN no Congresso – um pouco como o jogral que hoje modula as vozes da coalização demotucana e da mídia "ética" - martelavam a denúncia incansavelmente, testando por aproximação as condições para o impeachment deVargas. A notícia do pacto foi vigorosamente desmentida pela chancelaria argentina, mas um ex-ministro rompido com Getúlio, aliou-se a Lacerda para oferecer"evidências" das negociações entre o Brasil e Perón. A inexistência de provas – exceto a menção genérica de Perón à uma aliança regional — não demoveu a mídia que deu à declaração ressentida do ex-ministro contornos de verdade inquestionável, repetida à exaustão até acuar o governo.Vargas reagiu na única direção que lhe restava.
No 1º de maio de 1954anunciou o famoso reajuste de 100% para o salário mínimo num discursomarcado por elogios a Goulart, o ministro do Trabalho, mentor do reajuste,afastado pela pressão udenista. Ao conclamar os trabalhadores a se organizarem para defender seus próprios interesses, o discurso de 1º de Maio soava como um ensaio de despedida.Talvez até mais radical, na convocação aos trabalhadores, do que a própria Carta Testamento deixada quatro meses depois, quando o Presidente atirou contra o próprio peito para não ceder à pressão da mídia pela renúncia.*"A minha tarefa está terminando e a vossa apenas começa. O que já obtivestes ainda não é tudo. Resta ainda conquistar a plenitude dos direitos que vos são devidos e a satisfação das reivindicações impostas pelas necessidades (...) Como cidadãos, a vossa vontade pesará nas urnas. Como classe, podeis imprimir ao vosso sufrágio a força decisória do número. Constituí a maioria. Hoje estais com o governo. Amanhã sereis o governo"(Getúlio Vargas, 1º de Maio de 1954).*
A dramaticidade do suicídio iluminou o quadro político gerando transparênciae revolta diante do golpismo em marcha. Porta-vozes da oposição a Getúlio foram escorraçados nas ruas do Rio; uma multidão consternada e enfurecida cercou e depredou a rádio Globo que saiu do ar; veículos do jornal deRoberto Marinho foram caçados e queimados nas ruas da cidade. Para CarlosLacerda não sobrou um centímetro de segurança em terra: o "Corvo" foiobrigado refugiar-se no mar, a bordo do cruzador Barroso. A determinação conservadora de arrebatar o poder, todavia, não esmoreceu. Poucas semanas depois do suicídio, em 16 de setembro de 1954, uma segunda"denúncia" associada ao Pacto ABC explodiria nos microfones da rádio Globo. Era a largada, com 12 meses de antecipação, para a primeira disputa eleitoral em vinte e quatro anos que não contaria com a presença divisora de Getúlio na cena nacional.O alvo agora era João Goulart, o herdeiro político do presidente morto e adversário certo da UDN no pleito de outubro de 1955. Na voz estridente deLacerda, comentarista de diversos programas da emissora de Marinho, foi lidaem primeira mão a "Carta Brandi". Uma suposta correspondência do deputado argentino Antonio Brandi a João Goulart , apresentada como a prova"definitiva" da conspiração para implantar "uma república sindicalista noBrasil". Na efervescência da guerra eleitoral, o escândalo levou o Exército a abririnquérito imediatamente, enviando missão oficial a Buenos Aires para aprofundar as investigações. A conclusão oficial de que tudo não passara de uma grosseira fraude, forjada por Lacerda e alimentada pela imprensa anti-getulista, não abalou seus protagonistas. Lacerda rapidamente mudou o foco da denúncia, invertendo os termos da equação: fora vítima de uma cilada, uma isca arquitetada por adversários eleitorais para desmoralizar a democracia e acelerar aimplantação de uma república sindical no país - exatamente como descrevia a(falsa) "Carta Brandi"."(...) Se a carta não é verdadeira", escreveu na *Tribuna de Imprensa*, um mês depois da derrota da UDN para JK e Jango no pleito de outubro de 1955, "seu conteúdo está de acordo, mais ou menos, com o que se sabe da vida política do sr. Goulart..."Qualquer semelhança com o malabarismo denuncista que povoa a mídia tucana nos nossos dias não é mera coincidência. Os mesmos objetivos, os mesmos métodos, a mesma elasticidade ética e democrática estão de volta. A vitória apertada de JK em 1955 foi tratada pelo udenismo como uma sintoma de "ilegalidade das urnas". Inconformada, a chamada "imprensa da UDN" iniciou uma nova campanha, desta vez liderada pelo jornal *Estado de SãoPaulo*, que não poupou papel e tinta na luta para impedir a posse dopresidente eleito Juscelino Kubitschek. Se chegaram a esse ponto contra JK em 1955 e fracassaram, muito se deve ao desbloqueio do discernimento popular causado pelo suicídio do estrategista genial que foi Getúlio Vargas.
O arsenal udenista, porém, está de volta eseu partido midiático não disfarça a determinação de transformar 2010 nanova inflexão conservadora na vida do país. Resta saber que força poderádetê-los agora, a ponto de despertar na sociedade o mesmo efeitoesclarecedor do tiro que sacudiu o país na manhã de 24 de agosto de 1954.

O blog do Planalto vai bombar

domingo, 30 de agosto de 2009

Tive acesso antecipado ao blog do Planalto, para dar uma olhadela.

Minha opinião:

1. Está bonito, limpo, fácil de navegar e aproveita todos os recursos à disposição do Planalto: áudio, vídeo, fotos e texto.

2. Vem em três versões de design. O internauta pode escolher uma delas.

3. Permite compartilhamento de conteúdo razoavelmente simples com Twitter, Google Bookmarks, Facebook, Live, My Space, Friend Feeds, Net Vibes, del.icio.us e StumbleUpon.

4. Abre espaço para que o internauta interessado veja a transmissão ao vivo de eventos da Presidência.

5. Resolve de forma inteligente a questão dos comentários. Embora o blog não tenha espaço para comentaristas, o que seria o grande pecado do projeto, os tópicos podem ser incorporados a blogs e sites de terceiros. Ou seja, o Planalto vai "terceirizar" o debate.

Achei a janela do "blogue isso" um pouco confusa, especialmente para os novos usuários. Mas é bacana que o pessoal do blog tenha se preocupado em incentivar outras pessoas a criarem seus próprios espaços digitais. As plataformas oferecidas são Blogger, Wordpress, Tumblr, Livejournal, Typepad, UOL, Terra e Blig.

Uma boa "polêmica" de abertura é se o Planalto está usando uma ferramenta pública para incentivar tráfego da internet em empresas privadas, mas duvido que a Folha (dona do UOL) vá entrar nessa.

Achei falta de links úteis, especialmente para os cidadãos que vão conhecer o governo através do blog do Planalto. Seria bacana ter, por exemplo, um link com informações sobre a gripe suína, outro com dados da devolução de imposto de renda, etc.

Uma forma de incentivar as pessoas a buscar informações digitais sobre o governo.

Dado o tipo de cobertura que a mídia faz do governo Lula, trata-se de uma ferramenta muito importante para permitir ao leitor que estabeleça uma comparação entre:

1. Os fatos como aconteceram e como foram narrados pela mídia;

2. Notícias importantes que simplesmente vão para a gaveta;

3. A íntegra de discursos e eventos, permitindo que o leitor do blog os compare com os resumos oferecidos pelos jornais ou utilizados pelas emissoras de TV. Vai ficar muito mais fácil, por exemplo, perceber o uso descontextualizado de declarações.

Para além do governo Lula, trata-se de uma importante ferramenta de Estado, que poderá ser utilizada por qualquer presidente da República. Uma solução moderna, relativamente barata e eficiente de comunicação num mundo crescentemente digital.

Atualizado em 30 de agosto de 2009 às 15:29

por Luiz Carlos Azenha


A demonização de Dilma (2)

domingo, 23 de agosto de 2009

Outro dia eu disse que estava em curso um processo de demonização de Dilma Rousseff. Provavelmente tocado por marqueteiros de José Serra. Com a colaboração de uma rede de assessoria espalhada pela Veja, Folha, Estadão e Organizações Globo.
Repito o que escreveu Diogo Mainardi na Veja da semana passada:
A Igreja Universal, nos últimos dias, atrelou sua imagem à de Lula. É a mesma estratégia empregada por José Sarney. Um apoia o outro. Um defende o outro. Edir Macedo está com Lula e com Dilma Rousseff. Agora e em 2010. Se a Igreja Universal tem um Diploma de Dizimista, assinado pelo Senhor Jesus Cristo, Dilma Rousseff tem um Diploma de Mestrado da Unicamp, supostamente assinado pelo senhor Espírito Santo.
Agora, o que escreveu Eliane Cantanhêde:
Dilma parece estar no seu inferno astral. Além da radioterapia, ela enfrenta a entrada em cena de Marina, o empate com Ciro nas pesquisas, o envolvimento desgastante de Lula e do PT com a defesa de Sarney e, enfim, a cristalização da imagem de mentirosa (diploma, dossiê contra FHC, embate com Lina Vieira, versões divergentes de sua ação no caso Varig).
Agora, o que escreveu Danuza Leão:
Dilma personifica, para mim, aquele pai autoritário de quem os filhos morrem de medo, aquela diretora de escola que, quando se era chamada em seu gabinete, se ia quase fazendo pipi nas calças, de tanto medo. Não existe em Dilma um só traço de meiguice, doçura, ternura.
E mais:
Seja bem-vinda, Marina. Tem muito petista arrependido para votar em você e impedir que a mestra em doutorado, Dilma Rousseff, passe para o segundo turno.
São apenas três exemplos. Estou certo de que vocês terão visto outros. O que me interessa é mostrar como alguns temas são recorrentes. Dilma, a autoritária. Dilma, mentirosa. Dilma, a falsificadora de currículo.
Notem que os colunistas não se preocupam em fazer uma análise das posições políticas de Dilma Rousseff. O que ela pensa? O que já fez na vida? É preparada para disputar a presidência?
Cantanhêde, que se propõe a fazer um raio xis do quadro eleitoral, oferece como geral uma conclusão que é exclusivamente dela: a da cristalização da imagem de Dilma como a mentirosa.
Curiosamente, na leitura dos mesmíssimos veículos, não há uma só palavra sobre as inconsistências no currículo de José Serra, que não tem diploma universitário no Brasil. Nem de engenheiro, nem de economista.
Nem uma palavra sobre o fato de que Lina Vieira é casada com Alexandre Firmino, ex-ministro do governo FHC. Pelo que nos diz o Stanley Burburinho, no blog Tabuleiro Político, Lina era do Conselho de Desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Norte quando o CDE fechou contrato com a empresa Dois A Publicidade Ltda., que pertence ao marido dela.
O blog do Nassif traz várias informações importantes sobre as relações políticas e econômicas de Lina Vieira e do marido, que simplesmente foram desconhecidas pela mídia corporativa.
O blog Amigos do Presidente Lula diz que Alexandre Firmino foi ao depoimento de Lina Vieira e que senadores que certamente o conheciam fizeram "cara de paisagem", para não dar bandeira. Firmino foi fotografado na sessão, inclusive cochichando no ouvido da mulher.
Por que tantas omissões? Por que críticas exclusivamente dirigidas a Dilma Rousseff, enquanto José Serra é absolutamente poupado?
Eu respondo: é uma campanha milimetricamente organizada para aumentar a rejeição a Dilma Rousseff. Com a mídia no papel central da campanha.
Por luiz Carlos Azenha
www.viomundo.com.br

A demonização de Dilma

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O plano vem se desenrolando conforme o combinado. Falta saber apenas quem combina, quem transmite as ordens, quem é responsável por desencadeá-lodentro das organizações jornalísticas.Quem pegou pesado primeiro, para se preservar, foi a Folha de S. Paulo, com a ficha falsa da Dilma. O jornal tinha todos os elementos para derrubar amatéria por qualquer critério jornalístico, inclusive se obedecesse aopróprio manual de redação. Mas optou por criar uma segunda versão do"testando hipóteses".Quando digo "se preservar" é pelo fato de que a Folha controla um dosinstitutos de pesquisa, o Datafolha. Não pode cair na orgia midiática que OGlobo faz com a verdade factual."Testando hipóteses" é uma das contribuições geniais do Ali Kamel -- não oator pornô, o diretor de Jornalismo da Globo -- para nossos focas. É ateoria segundo a qual um jornalista pode chutar a versão que lhe der natelha durante uma cobertura, até acertar. Mais recentemente, Kamel inventou o "mais ou menos crente em Deus", que atribuiu ao presidente Lula. É comodizer que uma mulher está meio grávida.É impossível confirmar ou desmentir a ficha, afirmou candidamente o jornaldos Frias. Nada me tira da cabeça que foi um "teste de hipóteses" real,usando os leitores como cobaias. Depois de publicar a informação sobre"Dilma terrorista", os marqueteiros de Serra devem ter saído às ruas parafazer pesquisas qualitativas sobre o poder que a denúncia teve deinfluenciar eleitores. Isso é comum nos Estados Unidos. Aqui, não sei. Testo hipóteses. Pode serque sim, pode ser que não. Mas acho que faz sentido. Porque me parece que aestratégia de demonização persiste. Demonizar diretamente. E por associação. Demonizaram o Sarney, quando finalmente a mídia brasileira descobriu que Sarney... é Sarney. Demonizaram o Sarney mirando a Dilma. Diogo Mainardi entregou o ouro na edição mais recente da revista Veja, ao tentar ligar Dilma à gente que, supostamente, teria recebido dinheiro detraficantes de cocaína de Medellín:" A Igreja Universal, nos últimos dias, atrelou sua imagem à de Lula. É amesma estratégia empregada por José Sarney. Um apóia o outro. Um defende ooutro. Edir Macedo está com Lula e com Dilma Rousseff. Agora e em 2010. Se aIgreja Universal tem um Diploma de Dizimista, assinado pelo Senhor JesusCristo, Dilma Rousseff tem um Diploma de Mestrado da Unicamp, supostamenteassinado pelo senhor Espírito Santo. O senhor Edir Macedo e o senhor Lula seentendem. Eles sabem capitalizar a fé". A isso se chama, em marketing político, de definir a matriz de pensamento.Quem acha que isso não dá resultado está errado. Os marqueteiros não atirammais na grande massa eleitora. Eles hoje fazem planejamento voltado para osnichos do mercado, como quem corta salame. Podem perceber, sempre usando pesquisas, que o voto da classe média urbana em José Serra não está firme.Que precisam aumentar a rejeição aos adversários do Serra. Assim sendo, desenvolvem a estratégia e as ferramentas específicas para aquele tipo de eleitorado.É esse o exercício que está em andamento agora, no exato momento em que vocêlê esse texto, em minha modestíssima opinião. Aumentar a rejeição à Dilma.Da mesma forma que fizeram com Marta Suplicy em São Paulo. Mulher, sim, mas destemperada. Mulher, sim, mas descontrolada. Mulher, sim, mas não dá para confiar nela. Os marqueteiros planejam. A mídia executa. Estou certo de que é um plano milimetricamente traçado e de longo prazo.E Serra, como vocês sabem, não tem qualquer escrúpulo. É só ver o que elefez para eliminar Roseana Sarney da competição em 2002: usou promotores, a Polícia Federal e a mídia. Instrumentos aos quais ele continua tendo acesso,se não no plano federal, em nível estadual. Isso e mais a mídia.PS: Se eu fosse o marqueteiro da Dilma, faria que nem o marqueteiro doReagan, Michael Deaver, fez com o ator de cinema: só colocaria a Dilma emcenários bonitos, com crianças, sorridente. Deaver dizia: esqueçam aspalavras, olhem as imagens. A vantagem do marqueteiro de Dilma é que ela tem cérebro. E fazer Serra parecer simpático vai ser uma luta. PS2: Não olhem para a Folha. Olhem para o jornal gratuito, distribuído aosmilhares nas ruas de São Paulo, que roda o dia todo dentro de ônibus etáxis. Jornal simples. Textos curtos. Hoje a manchete era a espetacularvantagem de Serra sobre Dilma em São Paulo. Mais de 30 pontos!, ele gritava em uma das manchetes.
Luiz Carlos Azenha

A crise do senado começou faz tempo

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Demitam o estagiário
Publicado em 13 de agosto de 2009 às 13:15

Corrijam-me se estou enganado.
O senador José Sarney presidiu o Senado pela primeira vez em 1995.
Depois, deu lugar a Antonio Carlos Magalhães, certo?
Para refrescar a memória:
ACM: Lula é o caos, afirma presidente do SenadoData: 03/06/1998Gazeta MercantilBRASÍLIA, 3 de junho - O presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), criticou pesadamente os adversários do presidente Fernando Henrique Cardoso, relacionando qualquer alternativa à reeleição como "caos". Ao final de cerimônia sobre a Semana do Meio Ambiente no Palácio do Planalto, Magalhães disse que vai participar "informalmente" em tudo que disser respeito à reeleição de Fernando Henrique. "A reeleição é uma coisa que o País deseja e é indispensável para a estabilidade do País, para a competência predominar na administração pública, porque fora daí seria o caos. Quem quiser o caos tem outras soluções. Mas quem quer a estabilidade, (a solução) é esta", completou, referindo-se à reeleição.
Magalhães foi questionado se estava relacionando o "caos" com o candidato do PT à Presidência, Luís Inácio Lula da Silva, ou a Ciro Gomes. "Não falei sobre o Ciro porque ele não está numa disputa efetiva. Falei em relação ao Lula, com quem tenho também relações pessoais. Mas acho que o próprio PT sabe que o Lula não tem condições de governar o País", disparou. O presidente do Senado também comentou o sobre desempenho de Fernando Henrique nas pesquisas, que indicam descontentamento da população especialmente com a área social. "Na área econômica o governo está muito bem. Na área social está fazendo muito, mas não está chegando ao conhecimento popular. Quando se faz a coisa e ela não chega ao conhecimento popular, evidentemente não se tem o devido lucro político", observou. (Luís Eduardo Leal/AC, Invest News da Gazeta Mercantil)
O Viomundo observa:
Agaciel Maia era diretor do Senado desde 1995, certo? E agora acabam de descobrir 468 atos secretos iguais àqueles que quase custaram a cabeça do Sarney. Essa nova "safra" cobre os anos 1995-2000.
Perguntinha que qualquer estagiário de Jornalismo deveria fazer -- não subestimando os estagiários: Ué, mas só descobriram o caos no Senado agora? Não tinha caos no Senado na época do ACM? Levaram 14 anos para descobrir o caos no Senado? Ou será que alguem iscou a mídia nesse assunto, conduziu-a pelas narinas como parte da campanha eleitoral de um dos candidatos a presidente? Como diz um amigo meu, levaram mais de uma década para descobrir que o Sarney é o Sarney. E ainda não descobriram que ACM foi ACM.

www.viomundo.com.br, por luiz carlos azenha

Álvaro Dias(PSDB) sonega informação de aplicações financeiras

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

REVISTA ÉPOCA
08/08/2009
Omissão milionária
O senador Álvaro Dias, um dos que mais cobram transparência, não declarou R$ 6 milhões à Justiça
Matheus Leitão
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) é um dos que mais usam o palanque para exigir transparência do governo e de seus adversários. Mas, quando o assunto são suas próprias contas, ele não demonstra ter os cuidados que tanto cobra. Em 2006, Dias informou à Justiça Eleitoral que tinha um patrimônio de R$ 1,9 milhão dividido em 15 imóveis: apartamentos, fazendas e lotes em Brasília e no Paraná. O patrimônio de Dias, no entanto, era pelo menos quatro vezes maior. Ele tinha outros R$ 6 milhões em aplicações financeiras.
O saldo das contas não declaradas de Álvaro Dias foi mostrado a ÉPOCA pelo próprio senador, inadvertidamente, quando a revista perguntou sobre quatro bens em nome da empresa ADTrade, de sua propriedade, que não apareciam em sua declaração à Justiça Eleitoral. Para explicar, ele abriu seu sigilo fiscal. Ali, constavam os valores das aplicações.
A omissão desses dados à Justiça Eleitoral é questionável, mas não pode ser considerada ilegal. A lei determina apenas que o candidato declare “bens”. Na interpretação conveniente, a lei não exige que o candidato declare “direitos”, como contas bancárias e aplicações em fundos de investimento.
No Congresso, vários parlamentares listam suas contas e aplicações aos tribunais eleitorais, inclusive o irmão de Álvaro, o também senador Osmar Dias (PDT-PR). Osmar declarou mais de R$ 500 mil em aplicações e poupanças. Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) listou quase R$ 150 mil depositados. Francisco Dornelles (PP-RJ) informou R$ 1,5 milhão em fundos de investimento. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA), atual alvo de uma série de denúncias, declarou quase R$ 3 milhões da mesma forma. Há poucos dias, Sarney foi denunciado por não ter informado à Justiça Eleitoral a respeito da casa que mora em Brasília.
Na interpretação de dois dos maiores especialistas de Direito eleitoral, Fernando Neves e Eduardo Alckmin, o espírito da lei é de transparência: “É conveniente que o político declare contas bancárias e aplicações financeiras para que o eleitor possa comparar o patrimônio no início e no fim do mandato”, diz Neves. “Não há irregularidade, mas é importante para evitar confusões no caso de um acréscimo patrimonial durante o mandato”, afirma Alckmin.
Álvaro Dias diz que o dinheiro não consta em sua declaração porque queria se preservar. “Não houve má intenção”, afirma. Em conversas reservadas, ele tem dito que o objetivo da omissão era manter a segurança de familiares.
O dinheiro não declarado de Álvaro Dias, segundo ele, é fruto da venda de uma fazenda de 36 hectares em Maringá, Paraná, por R$ 5,3 milhões. As terras, presente de seu pai, foram vendidas em 2002. O dinheiro rendeu em aplicações, até que, em 2007, Álvaro Dias comprou um terreno no Setor de Mansões Dom Bosco, em Brasília, uma das áreas mais valorizadas da capital. No local, estão sendo construídas cinco casas, cada uma avaliada em cerca de R$ 3 milhões.
Quando as casas forem vendidas, o patrimônio de Álvaro Dias crescerá ainda mais. Nada ilegal. Mas, a bem da transparência, não custa declarar.

CONTROLE SOCIAL DA MÍDIA

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Por que não discutir o assunto?

Por Venício A. de Lima

No 2º Encontro Nacional de Comunicação da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), realizado recentemente, em São Paulo, o subchefe executivo da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) informou que é posição de governo não apoiar a inclusão do controle social da mídia entre os temas a serem discutidos na 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).
Como a Comissão Organizadora é tripartida, sabendo-se que a interdição do debate sobre o controle social da mídia é defendida desde sempre pelos setores empresariais, a se confirmar a posição de governo ela significaria que o tema estará ausente da 1ª Confecom – uma vez que, sozinhos, os representantes da sociedade civil não teriam votos suficientes para garantir sua inclusão.
O que significa controle social da mídia e por que os empresários e, aparentemente, importantes setores do governo não querem sequer que o tema seja debatido?

Controle social

Na sociologia, o conceito de controle social é muito próximo da idéia de padrões culturais ou regras de conduta ou conjunto de normas que "guiam e constrangem os indivíduos em suas relações com os outros membros da sociedade". Alguns tipos de controle social são os costumes, a opinião pública, a religião, a moral e a educação. Na teoria funcionalista, o controle social dos "desvios" permite o reequilíbrio permanente do sistema social, enquanto na sociologia do conflito ele serve a interesses de classe.
Na ciência política contemporânea, por outro lado, a idéia de controle social aparece associada à descentralização administrativa e a formas de democratização da gestão pública. A palavra, em inglês, accountability é a que mais se aproxima do conceito.

A própria dificuldade de se encontrar um equivalente em português para accountability expressa a ausência no Brasil, país com forte tradição de Estado patrimonialista, de um conceito que represente a responsabilidade do poder público (ou daqueles que executam serviços públicos por sua concessão) de prestar contas de ações implementadas (ou não) em nome do interesse público aos seus cidadãos.
A idéia accountability como controle social foi um princípio inserido na Constituição de 1988 que vem sendo adotado, com relativo sucesso, em vários setores de políticas públicas, sobretudo na educação e na saúde. Nestes setores, a idéia está totalmente incorporada e fala-se de controle social da educação ou de controle social da saúde sem que ninguém tenha dúvidas de que se trata de um mecanismo democrático de gestão que funciona normalmente no estado de direito.
O MEC, por exemplo, define controle social como "a participação da sociedade no acompanhamento e verificação das ações da gestão pública na execução das políticas púbicas, avaliando os objetivos, processos e resultados" (ver aqui).

Sem regulamentação

Quando se fala em controle social da mídia, por óbvio, refere-se diretamente apenas àqueles serviços públicos de radiodifusão sonora de sons e imagens, exercidos diretamente pela União ou cuja concessão foi outorgada à iniciativa privada.
Como na educação e/ou na saúde, trata-se, portanto, da criação de mecanismos de accountability que permitam à sociedade, através de representantes democraticamente eleitos, acompanhar, verificar e avaliar se as políticas públicas do setor, executadas diretamente pela União ou por concessionários dos serviços públicos por ela outorgados, cumprem as normas definidas na Constituição e nas leis.
Uma referência inicial para accountability da mídia seria o capítulo 5 – "Da Comunicação Social" – da Constituição. Lá estão: a proibição de monopólios ou oligopólios dos meios de comunicação; os princípios para a produção e a programação no rádio e na televisão – finalidades educativas; promoção da cultura regional; estímulo à produção independente; regionalização da produção cultural, artística e jornalística; respeito a valores éticos e sociais da pessoa e da família; o princípio da complementaridade entre os sistemas privado, público e estatal.
Sabe o leitor(a) que nenhuma dessas normas constitucionais, que têm já mais de 20 anos, foi sequer regulamentada pelo Congresso Nacional e que, portanto, se transformaram em "letra morta", sem qualquer eficácia legal. Sabe também que o Conselho de Comunicação Social – órgão auxiliar do Congresso Nacional – regulamentado por lei, simplesmente deixou de funcionar desde dezembro de 2006.

O porquê da interdição

Desta forma, não é difícil compreender o porquê de o controle social da mídia, ao contrário do que já ocorre em relação a outros direitos fundamentais como a educação e a saúde, venha sendo sistematicamente interditado, inclusive, para o debate. Parece, agora, que os grupos empresariais da radiodifusão estão tentando dar um passo além e vetar até mesmo a inclusão do tema na Confecom.
Espera-se que os setores do governo envolvidos na organização da 1ª Confecom se dêem conta da injustificável assimetria que existe na accountability de diferentes setores de políticas públicas e apóiem a inclusão do controle social da mídia como um de seus temas. Ou não se pode sequer debater?

Confira a íntegra do documento aprovado pelo Diretório Nacional do PT

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Confira no link abaixo a íntegra do Código de Ética do PT, aprovado pelo Diretório Nacional do partido em reunião do dia 18 de junho de 2009.

Código de Ética do PT